A crise eleitoral no Haiti e o futuro instável
As eleições presidenciais no Haiti estão a ser arrastadas há já algum tempo. Esperava-se que estas eleições devolvessem a confiança dos cidadãos sobre os processos eleitorais e que servissem para a restauração da ordem social num dos países mais instáveis da região, pelo menos é esta a opinião comum sobre a sua situação.
Aquando das eleições legislativas em 9 de Agosto de 2015, vários manifestantes saíram à rua, sob suspeita de que as eleições tinham sido fraudulentas; este descontentamento foi seguindo pela primeira volta das eleições presidenciais em 25 de Outubro — mas porque o actual presidente, Michel Martelly, ainda estava constitucionalmente proibido de concorrer nestas eleições e porque nenhum candidato alcançou a maioria dos votos durante a primeira volta, uma segunda volta foi marcada para 27 de Dezembro de 2015. Contudo, esta segunda não chegou a ter lugar.
Já em 2016: o candidato presidencial da oposição Jude Celestin e o seu rival e candidato apoiado pelo governo Jovenel Moïse, que esteve em primeiro lugar durante a primeira volta, deviam concorrer juntos à segunda volta marcada para 24 de Janeiro. Surpreendentemente, Celestin anunciou no dia 18 de Janeiro que não participaria das eleições programadas para esta data. De seguida, apelou até ao boicote das eleições. Sem tardar, um grupo dos 8 (designado por e ‘G8′) candidatos presidenciais da oposição fez o mesmo.
Esperava-se que estas eleições devolvessem a confiança dos cidadãos sobre os processos eleitorais e que servissem para a restauração da ordem social num dos países mais instáveis da região, pelo menos é esta a opinião comum sobre a sua situação.
Enquanto ainda eram apenas rumores de que a violência é que estava na origem do atraso das eleições, o blog Dady Chery não tardou com a confirmação:
“Está declarada a guerra pelo Haiti. Enquanto os Haitianos arrastam-se em eleições fraudulentas e fazem seus planos individuais, a ocupação estrangeira está ávida em inventar uma falsa solução Haitiana para o impasse eleitoral. Uma pura campanha de desinformação, por parte dos órgãos de informação como o Associated Press, Reuters, The Guardian e o Miami Herald é a vanguarda da tentativa colonial de tomar o controlo do Haiti.”
Até aqui, o único candidato que ainda concorre nestas eleições fraudulentas, é o Moïse, fundador da Agritrans, uma plantação privada de produção de banana que alegadamente desalojou cerca de 800 camponeses, que cultivavam legalmente a mesma terra, destruindo suas residências e plantações. Esta empresa exporta a sua banana para Alemanha, apesar do facto de Haiti não ter alimentos suficientes para o seu próprio sustento.
Um relatório produzido por Joshua Steckley e Bevery Bellogger teme que Moïse esteja a usurpar terra apenas para benefício próprio.
A presidência de Moïse só serviria para que as decisões políticas dessem mais prioridade ao comércio livre e às empresas privadas, em detrimento do apoio à maioria da população vulnerável. Isto por sua vez abriria as portas para a usurpação massiva de terras, que já está a ser planificada ou até já em curso, desalojando assim os camponeses que trabalham nessas terras.
Mesmo assim, este político, têm seus apoiantes.
Vários usuários de redes sociais como o Twitter, como a Daniella Bien-Aime, também se mostraram preocupados sobre a autenticidade de tudo isto.
Para piorar ainda mais as coisas, os manifestantes da oposição entraram em confrontos com antigos combatentes pro-Martelly. Estes membros das forças armadas também conhecidos como Forcas Armadas do Haiti (FADH), apoiam Martelly por causa da sua promessa de recuperar o exército nacional.
Não obstante, a 7 de Fevereiro — último dia do seu mandato, Martelly demitiu-se, deixando a direcção do pais nas mãos de um governo provisório e assinou um acordo com dois líderes parlamentares — o Senador Jocelerme Privert e o líder da Câmara Baixa do parlamento Cholzer Chancy — no qual declarou que o Primeiro-ministro Evans Paul é que assumiria as pastas da presidência, até que um presidente interino seja nomeado pelo parlamento. Se este presidente interino for nomeado, ele deve presidir o país por 120 dias, enquanto se aguarda a realização de novas eleições. As novas eleições devem ter lugar em 24 de Abril, e o novo presidente toma posse no dia 14 de Maio.
O blogueiro Stanley Lucas mostrou-se preocupado com o que pode acontecer com este pais, agora que nem sequer tem um presidente:
“Sem o apoio da comunidade internacional para o isolamento dos perpetradores de actos de violência e corrupção do sistema, este arranjo ou qualquer outro acordo, estão condenados ao fracasso, e o país vai mergulhar de volta ao caos por pelo menos uma década ou mais. A OEA (Organização dos Estados Americanos) devia evocar a Carta Democrática e levar a cabo uma investigação para identificar os culpados, para depois exclui-los do processo.”
Actualização: Na manhã de domingo, 14 de Fevereiro, o parlamento do Haiti indicou Jocelerme Privert como presidente interino do país.
Tradução de Helio Ngoenha | [email][email protected]
Artigo original em inglês: https://globalvoices.org/2016/02/13/haitis-electoral-crisis-and-unsteady-future/