Mestiçagens socioculturais e procura de identidade na África Contemporânea

O caso dos países lusófonos

O Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA) lança um apelo a comunicações por ocasião do colóquio sobre o tema «Mestiçagens socioculturais e procura de identidade na África contemporânea: o caso dos países africanos lusófonos», que pretende organizar nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008 na Cidade da Praia (Cabo Verde) no âmbito da Iniciativa África Lusófona do CODESRIA. Este colóquio tem como objectivo nomeadamente abrir os debates que se desenvolvem no seio da comunidade de investigadores africanos lusófonos aos investigadores e universitários africanos francófonos, anglófonos e arabófonos.

O Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA) lança um apelo a comunicações por ocasião do colóquio sobre o tema «Mestiçagens socioculturais e procura de identidade na África contemporânea: o caso dos países africanos lusófonos», que pretende organizar nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008 na Cidade da Praia (Cabo Verde) no âmbito da Iniciativa África Lusófona do CODESRIA. Este colóquio tem como objectivo nomeadamente abrir os debates que se desenvolvem no seio da comunidade de investigadores africanos lusófonos aos investigadores e universitários africanos francófonos, anglófonos e arabófonos. Ele inscreve-se na continuidade dos debates realizados em 2005 em Maputo (Moçambique) durante o colóquio sobre a lusofonia em África, cujas actas foram publicadas sob a forma de uma obra colectiva.

O tema escolhido este ano incide sobre a problemática da mestiçagem sociocultural, definida como uma nova síntese resultante da mistura de culturas em contacto. Caracterizado pela associação de traços culturais induzidos e pela manutenção de características tradicionais ou recentemente tomadas por empréstimo, o conceito de mestiçagem sociocultural faz parte há muito tempo das preocupações da pesquisa em ciências sociais. É contudo um conceito controverso, tendo em conta os significados diversos que lhe são atribuídos e a diversidade de realidades sociais que evoca. Ele integra o vocabulário dos Estados que preconizam o multiculturalismo e deveria opor-se ao racismo e à exclusão social. Está igualmente presente, ainda que se fale pouco nele, nos países cuja população apresenta um forte grau de mestiçagem, como as Seicheles, as Ilhas Maurícias, Madagáscar, a costa oriental africana, etc., na esteira de trocas seculares ou mesmo milenárias com outros horizontes. Fonte de enriquecimento para alguns, a mestiçagem desperta, em contrapartida, suspeitas difusas, receios de perda do eu e de diluição da identidade para outros. Sob esta perspectiva, ele remete para a noção de identidade ou de pertença, quer como indivíduo quer como colectividade.

Todas as sociedades, mesmo as que pretendem ser as mais “puras”, são de facto o resultado de um longo e contínuo processo de integração que as viu absorver outros grupos de população, de maneira mais ou menos importante e segundo diversas modalidades. Estas diferentes formas de integração decorrem de movimentos seculares de populações, da sua instalação em novas zonas, de deslocações sucessivas ligadas às consequências dos acasos ecológicos, climáticos, religiosos, políticos, etc. Ao analisar estes movimentos e estas diferentes formas de integração, as abordagens antropológicas concentraram-se em aspectos relacionados com as narrativas de fundação, a análise das relações entre “donos da terra” e os que vieram depois, o papel das alianças matrimoniais na integração destes, os valores de hospitalidade e, globalmente, as capacidades de integração das sociedades africanas. No entanto, elas debruçaram-se pouco sobre os aspectos ligados aos processos de diferenciação das relações estabelecidas entre estas populações e às mudanças induzidas por estas mesmas relações e enquanto resultado das trocas entre os autóctones e os que vieram depois. Assim, os desafios identitários foram tratados de maneira subsidiária.

Ao organizar este colóquio, o CODESRIA quer contribuir, através de uma abordagem pluridisciplinar e transcendendo as barreiras linguísticas, para os debates sobre as relações que ligam a mestiçagem cultural à construção e à afirmação de identidades tal como elas se apresentam nas sociedades africanas contemporâneas. As realidades contemporâneas foram privilegiadas porque elas interpelam os investigadores à medida do seu impacto político espectacular, para não dizer dramático em certos casos, e simultaneamente pelo seu enraizamento no passado, pontuado por diferentes fenómenos, actos e processos como a escravatura, o comércio de longa distância e a colonização. Parte-se da constatação de que as relações entre diferentes grupos de populações, fazendo parte de ambientes complexos e interligados, não cessam de diferenciar-se, de segmentar-se, e igualmente de transformar-se. Estas trocas são definidas, entre outros factores, por um processo de individualização e formação identitária, de onde a conexão entre os processos que desembocam em diferentes formas de mestiçagem e os procedimentos que conduzem à definição de diferentes formas de identidade. Por isso, é interessante estudar em que medida estas mudanças estão a produzir novas formas de mestiçagem e por conseguinte novas identidades aptas a fazer concorrência às identidades estabelecidas. Qual é a pertinência heurística de tais conceitos para compreender as transformações e as tendências evolutivas das sociedades actuais em geral e da África em particular?