O insucesso escolar dos jovens afro descendentes em Portugal
A minha integração na equipa de investigadores da Universidade de Lisboa que desenvolveu estudos na prestigiada Associação caboverdiana “Moinho da Juventude” sedeada no Bairro Alto da Cova da Moura - Amadora, sendo que as minhas funções consistiam em estabelecer “pontes e cruzamentos entre as escolas, famílias e a comunidade, bem como colaborar na formação das monitoras que acompanhavam os miúdos na realização de trabalhos de casa e na ocupação de tempos livres, permitiu-me compreender aspectos importantes sobre a realidade educativa dos nossos alunos.
A minha integração na equipa de investigadores da Universidade de Lisboa que desenvolveu estudos na prestigiada Associação caboverdiana “Moinho da Juventude” sedeada no Bairro Alto da Cova da Moura - Amadora, sendo que as minhas funções consistiam em estabelecer “pontes e cruzamentos entre as escolas, famílias e a comunidade, bem como colaborar na formação das monitoras que acompanhavam os miúdos na realização de trabalhos de casa e na ocupação de tempos livres, permitiu-me compreender aspectos importantes sobre a realidade educativa dos nossos alunos. Neste âmbito, ocorreu-me a ideia de propor este assunto ao debate público. Principalmente no que tange a comunidade Guineense radicada em Portugal, envolvendo para o efeito, concidadãos com responsabilidades nesta área. (Refiro-me concretamente: Aos académicos, associações de estudantes, as denominadas “Casa da Guiné”, professores, pais, alunos e demais interessados) sob pena de cairmos na SONOLÊNCIA INTELECTUAL face a este problema.
Atualmente a crise imprime a todos os níveis uma dinâmica concorrencial fora do habitual, o uso das novas tecnologias acrescenta outros desafios, o mundo de trabalho é cada vez mais exigente. Neste contexto, a tarefa da educação torna-se cada vez mais difícil e diversificado. Com efeito, urge mais do que nunca, todos os parceiros na educação assumirem as suas responsabilidades.
Efectivamente a meu ver este assunto merece ser equacionado em função do seu impacto social. Na medida em que o insucesso escolar, também é considerado insucesso familiar e social ao mesmo tempo. Visto que é um problema que além de causar inquietação e desconforto familiar, acresce avultados sacrifícios financeiros ao rendimento dos pais. Porquanto as famílias sabem perfeitamente que uma criança mal sucedida nos estudos, eventualmente corre o risco de se tornar num cidadão desclassificado, para o qual haverá poucas oportunidades de emprego e socialmente menos reconhecido.
Lamentavelmente é o que está a acontecer com os nossos jovens em Portugal. O insucesso escolar provoca o abandono escolar precoce. Por conseguinte os miúdos experimentam muito cedo o pesado fardo da sobrevivência. Exemplo: Alguns recorrem ao trabalho precário atrás dos balcões das lojas Mc Donalds, ou nas caixas registadoras dos supermercados Mini Preço. Os mais habilidosos encontram empregos nas discotecas como animadores da noite (DJs) ou então apostam na música (hip hop, rap, etc). Como forma de ganharem a vida. Enquanto os mais desgraçados e são muitos, uma vez que perderam o controlo e a estima da família, refugiam-se nos vícios que lhes destroem a vida para a eternidade.
É obvio que estas consequências têm as suas causas. No entanto a primeira explicação que ocorre, é que o aluno não estuda e se não estuda, é porque é preguiçoso.
Ora é importante afirmar que não é por uma criança ser preguiçosa, que não se adapta à vida escolar: mas por não adaptar à vida escolar é que se torna preguiçosa. Portanto a preguiça não é a causa do insucesso, mas sim o seu efeito.
No que toca a responsabilidades das escolas, lamentamos o facto de o relacionamento entre professor e o aluno se limitar mais a nível didatico que a nível pessoal. Ou seja, professores e alunos não se conhecem suficientemente ao ponto de compreenderem as dificuldades um do outro. Por outro lado, é importante referir que, a simpatia do professor condiciona a aprendizagem do aluno. O mais agravante a meu ver, alguns professores fazem uma espécie de “pré-avaliação” à capacidade de certos alunos. Ou dito de outra forma, subestimam uns em detrimento de outros. Outrossim, não há flexibilidade dos currículos (programas) em relação às necessidades educativas dos alunos provenientes dos países com sistemas educativos menos avançados. Não obstante, como referimos anteriormente, o verdadeiro desafio reside na falta de adaptação e integração dos mesmos na vida escolar. Os alunos em causa fazem do silêncio as suas virtudes, facto que prejudica negativamente as suas capacidades de expressão escrita e oral.
Relativamente às famílias, o desentendimento conjugal provoca na criança a sensação de insegurança e manifesta-se na indisponibilidade de aprender. De outro modo, sucede que alguns pais desvalorizam a importância da escola, exaltam o exemplo daqueles que triunfaram na vida sem terem passado pelos corredores da escola. Como diz o outro (Setimo sorte... mas Setimo ano) esquecem-se que uma das razões que obriga a criança a se dedicar mais, consiste na satisfação dos pais. Contrariamente ao que se pensa, as crianças sabem avaliar o interesse dos pais relativamente aos seus estudos. Se verificarem que os seus bons resultados não provocam minimamente a satisfação, ou seja, os seus maus desempenhos não suscitam comentários nem repreensões, não atribuem importância aos estudos.
Concluindo, importa destacar que não basta ser bom aluno apenas a nível da aprendizagem da matéria de estudo, ter boas notas e ficar-se por aí. É preciso que o aluno faça a interligação da teoria à prática no uso dos conhecimentos adquiridos, pois temos hoje em dia, exemplos de muitos quadros que foram bons alunos, mas que não são bons profissionais.
A tarefa da educação também consiste em articular três vertentes: SABER; SABER FAZER e SABER SER!
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR.
Umaru Balde (penso, logo existo)
*Umaru é mestre em Ciências de Educação pela Universidade de Lisboa, este texto apareceu primeiro em Didinho.org
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