Campus Anual de Ciências Sociais do CODESRIA: Apelo a Candidaturas
O Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA) tem o prazer de anunciar a sétima sessão do seu Campus Anual de Ciências Sociais, e convida os especialistas africanos a apresentarem as suas candidaturas para participar no programa que, este ano, está previsto ter lugar em Dar-es-Salaam, Tanzânia, de 29 de Setembro a 3 de Outubro de 2008.
Tema: O Ideal Pan-Africano Contemporâneo: Raízes Históricas e Perspectivas Futuras
Data: 29 de Setembro - 3 de Outubro de 2008. Local: Dar-es-Salaam, Tanzânia
Apelo a Candidaturas
O Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA) tem o prazer de anunciar a sétima sessão do seu Campus Anual de Ciências Sociais, e convida os especialistas africanos a apresentarem as suas candidaturas para participar no programa que, este ano, está previsto ter lugar em Dar-es-Salaam, Tanzânia, de 29 de Setembro a 3 de Outubro de 2008. O Campus é concebido como um diálogo de pesquisa aprofundado simultaneamente multidisciplinar e intergeracional. É organizado à volta de um tema específico, e até 15 especialistas, de diferentes disciplinas e que representam as diferentes gerações de investigadores sociais africanos, são seleccionados para participar no Campus. Esta diversidade de participantes destina-se a promover um diálogo intenso e crítico entre as disciplinas, bem como entre as diferentes gerações de especialistas africanos, a fim de fazer progredir a teoria, os métodos e as práticas. Cada Campus pretende ser um exercício intensivo e interactivo durante uma semana.
A participação no Campus requer a apresentação de uma proposta de pesquisa que contenha ideias inovadoras, ou o aprofundamento de um trabalho já em curso, ligado ao tema do Campus. As actividades são geridas por um coordenador que também é responsável pela elaboração do programa de apresentações e debates entre os participantes. Além disso, o coordenador, em colaboração com o Centro de Documentação do CODESRIA (CODICE), identificará a literatura fundamental a ser utilizada pelos participantes no Campus. Os investigadores cujas propostas forem seleccionadas deverão participar no Campus apresentando as suas próprias comunicações, reagindo às comunicações dos outros participantes, e fazendo uma leitura/releitura crítica dos textos fundamentais no âmbito de um diálogo multidisciplinar e intergeracional aprofundado. No encerramento do Campus, os participantes serão encorajados a rever as suas comunicações e a apresentá-las para publicação numa nova série denominada Anais do Campo Anual de Ciências Sociais do CODESRIA. Cada publicação da série será editada pelo coordenador do Campus onde foram apresentadas as comunicações.
O tema escolhido para a sessão 2008 é O Ideal Pan-Africano Contemporâneo: Raízes Históricas e Perspectivas Futuras. É um tema que vai ao encontro dos debates que têm lugar em África e na Diáspora Africana sobre os desafios contemporâneos de unificação, integração e desenvolvimento dos países do continente num estádio de globalização acelerada. Ao decidir centrar o Campus 2008 no Pan-Africanismo, o CODESRIA procura contribuir com um contexto histórico, uma dimensão crítica e perspectivas futuras pertinentes para os debates em curso. A maioria destes debates são conduzidos como se os assuntos em discussão não tivessem antecedentes históricos sobre os quais valesse a pena reflectir, e como se os africanos só tivessem escolhas extremamente restritas em termos da sua unidade e integração. Os investigadores seleccionados para participar no Campus 2008 serão convidados a desafiar estes pressupostos explícitos ou tácitos na base dos quais está a ser debatido o futuro de África. Também serão encorajados a transcender o a-historicismo que caracteriza grande parte do debate contemporâneo sobre o ideal pan-africano e a fornecerem uma exploração mais fundamentada das oportunidades, perspectivas e desafios do alargamento das fronteiras do pan-africanismo no século XXI.
O tema do pan-africanismo tem sido recorrente na história dos povos de África e de ascendência africana. Desde os esforços pioneiros de Henry Sylvester Williams, Marcus Garvey e W.E.B. Du Bois, sucessivas gerações de líderes e pensadores africanos têm abordado a questão da unidade, identidade e renascença africana, em diversos contextos e circunstâncias dentro e fora do continente, que provocaram reengajamentos periódicos dos africanos com a sua própria história como povo. Nos tempos actuais, os desafios da unidade e integração africana têm vindo, mais uma vez, a ocupar o primeiro plano nos debates políticos continentais. A causa imediata deste renovado interesse foi o contexto pós-Apartheid dos anos noventa em África e a reflexão colectiva que se seguiu acerca de como o projecto de unidade pan-africana podia avançar após a libertação total do continente do poder colonial, colonizador e não colonizador. Se o ambiente pós-Apartheid da política pan-africana levou os espíritos a centrarem-se no futuro do continente, o contexto de globalização acelerada e a ameaça de fragmentação que ela coloca acrescentaram um sentido de urgência à procura de um investimento colectivo de esforços na construção de uma comunidade política comum para os povos do continente. Os reflexos manifestaram-se de maneiras muito diferentes, incluindo a transformação da Organização da Unidade Africana (OUA) em União Africana (UA) em 2001.
Tanto na sua estrutura como na sua missão, a UA foi criada para representar uma etapa nova e até qualitativamente diferente na procura de uma unidade pan-africana contemporânea à volta da qual todos os povos do continente e a Diáspora Africana podem ser mobilizados. No entanto, pouco depois da inauguração formal da União, tornou-se evidente que nem todos os actores tinham uma compreensão comum do seu lugar no projecto e nos processos de unificação e integração. Foi igualmente evidente que o grau de soberania que os estados-membros individuais da UA precisavam de ceder para avançar as fronteiras da integração e unidade continental provavelmente não tinha sido bem pensado por todas as partes envolvidas. Além disso, a ambição de assegurar que o pan-africanismo contemporâneo fosse conduzido mais pelos povos do continente e menos gerido como um assunto exclusivo dos chefes de estado e de governo exigia repensar a estratégia mais profundamente que o previsto. As diferenças de compreensão e de abordagem que afectaram o funcionamento da UA quer como instrumento quer como espaço de unificação e integração, e o correspondente sentimento de frustração que a seguir emergiu, culminaram no chamado Grande Debate que teve lugar na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo realizada em meados de 2007 em Accra, no Gana, na qual também o continente celebrou formalmente o 50º aniversário da independência do país. Mas nem o simbolismo dos 50 anos do Gana nem a escolha de Accra como local para o Grande Debate motivaram suficientemente os participantes na cimeira para desenvolver e acordar um «roteiro» para a unificação e integração do continente.
O Grande Debate de Accra sobre a unidade africana revelou duas perspectivas opostas. A primeira delas defendia a rápida criação, imediata que fosse, de um governo unitário para África como mais um passo em direcção à realização do sonho dos Estados Unidos de África. A segunda perspectiva, embora não discordando do interesse de construir a unidade africana como objectivo último, defendia uma abordagem muito mais gradual que poderia começar com uma maior concertação da cooperação económica regional e dos esforços de integração. Ambas as posições reflectiam visões concorrentes similares às que fizeram parte da história do pan-africanismo desde os seus primórdios. A este respeito, convém relembrar as diferenças de abordagem entre Garvey e Du Bois, Nkrumah e Nyerere e os blocos de Casablanca e Monróvia. Estas diferenças, manifestadas em diversos pontos da história do pan-africanismo, não concernem apenas ao conteúdo, mas também à altura apropriada, ao faseamento e à sequência. Todavia, o Debate de Accra foi conduzido como se tivesse lugar num vazio histórico, e sem a devida atenção às possíveis lições a extrair da história da procura da unidade e integração. Os participantes no Campus 2008 serão encorajados a colmatar este défice de ancoragem histórica nos debates contemporâneos sobre o ideal pan-africano. Deste modo, eles serão chamados a explorar os diversos elementos de continuidade e mudança na articulação do ideal pan-africano contemporâneo. A este respeito, é de particular importância a questão de o que significa, filosoficamente, ser pan-africano hoje em dia. Porque, sem uma exploração plena do pan-africanismo como uma forma de ser e a criação de uma compreensão comum em torno dessa forma de ser, a procura de um “roteiro” da unidade e integração continuará simplesmente a ser conduzida às cegas ou na base de gestos simbólicos. O pan-africanismo conceptualizado como uma forma de ser também traz significado à política de pan-africanismo contemporâneo que será examinada juntamente com os imperativos históricos e contemporâneos de unidade e identidade. Além disso, será avaliada a permanente contradição de construir o pan-africanismo na base de um sistema de estado-nação que está a ser constantemente reproduzido e reforçado. O mesmo acontecerá com as tensões entre o ideal de processos de união e de unificação conduzidos pelo povo e as estruturas dominadas pelos estados.
Os investigadores que já reflectem sobre a problemática do pan-africanismo e que tiverem perspectivas inovadoras a partilhar com outros pesquisadores e a comunidade académica, são convidados a apresentar as suas candidaturas no Secretariado do CODESRIA até 25 de Julho de 2008. Além de uma proposta substancial de 10 páginas no máximo, reflectindo o trabalho em curso sobre este tema ou a proposta de novas questões a investigar, os candidatos interessados devem também enviar o seu curriculum vitae. As candidaturas devem ser enviadas para:
The CODESRIA Annual Social Science Campus,
Department of Training, Grants and Fellowships,
CODESRIA,
BP 3304, CP 18524, Dakar, Senegal.
Tel: +221-33 825 98 22/23
Fax: +221-33 824 12 89
E-mail: [email][email protected]
Website: http://www.codesria.org