É possível tornar positiva a nossa identidade, quando somos o Outro fragmentado?
É possível tornar positiva a nossa identidade, quando somos o Outro fragmentado?
Interessa-nos narrar neste artigo o processo de fabricação do Outro, bem como este sujeito com um corpo encarnado é interpelado pela sua representação. Devo alertar que o processo da alteridade aqui observado caminha-se no circuito da racialização enlaçado com o circuito da sexualização. Estes dois circuitos imbricam-se na história de vida dos imigrantes negros na primeira década do século XXI na Península Ibérica.
Ao longo da minha experiência etnográfica sobre masculinidades, sobretudo na Comunidade Autônoma de Galícia, conseguir apreender as pautas que constituem e é constituída através do ato performativo do varão negro, a saber: a força física, o tamanho exagerado da sua genitália e o tabu inter-racial. Estas pautas podem ser analisadas nas três dimensões que compõem os estudos sobre masculinidades: relações de poder, relação de desejo e relação de trabalho.
Talvez a mais polêmica das três dimensões esteja relacionada ao campo do desejo. Desta forma, tentarei delinear esta dimensão a partir de duas interpelações sofridas pela investigadora no contexto de Congresso Científico, por parte de dois homens brancos de nacionalidades distintas. A primeira interpelação: - Só mesmo uma mulher para se preocupar com estas coisas!!! A segunda: - Fui buscar nos livros de urologia, e lá indica que o maior pênis é dos indianos.
Para o primeiro interlocutor considero que a sua indagação, subtraída da sua misoginia irônica, é pertinente no sentido que são os estudos feministas e a teoria queer, que efetivamente estão preocupados com a constituição dos subalternos e com a denúncia de uma ciência constituída numa matriz racializada, androcêntrica e heterossexual compulsória. Por outro lado, a segunda interpelação tem a ver com aqueles leitores ávido de uma essência ou de uma verdade biológica. Para eles, é preciso alertar de que as Ciências Sociais, ou pelos menos, uma parte considerável desta não está preocupada com a verdade “inconteste” da biologia sobre os nossos corpos, mas sim, como nós compreendemos/ simbolizamos/interpretamos e somos interpelados por esses discursos hegemônicos.
Para se compreender que estas pautas depreendidas no aqui-agora, mediante os atos performativos dos varões negros, foram pautas estruturadas e estruturantes das relações interpessoais. Reporto-me aos estudos realizados por Richards (1993) sobre as minorias da Idade Média perseguidas, bruxa, judeu, prostituta, leprosa e homossexual verificou-se que o sexo é um motivo para o sofrimento desta minoria. Aqui, nos interessa o paralelo demonstrado pelo autor entre o judeu e o negro, na seção intitulada segregação:
A percepção cristã do perigo judaico, o ‘inimigo interno’, pode ser encontrada no desejo de identificá-los e isolá-los, atitudes que se tornaram estratégias predominantes em relação aos judeus a partir do século XIII. As proibições de casamentos mistos ou de prática sexual inter-racial foram reforçadas. Sem dúvida, já há muito havia uma aversão por essas práticas. Os casamentos mistos já haviam sido proibidos pelo código de Teodosio e de Justianiano. A proibição foi renovada em muitos códigos de leis da Idade Média, mas com tal ferocidade que é difícil de encará-la somente como resultante do temor do proselitismo judaico em relação aos cristãos. De modo suspeito, estas proibições se parecem com o tipo de temor que os racistas brancos sentem em relação aos negros – a idéia de conspurcação e também a inveja da potencia sexual. Acontece que os judeus se opunham igualmente aos casamentos mistos, mas muitos dentre eles tinham concubinas cristãs... Isso equiparava claramente o sexo inter-racial o mais sério dos crimes sexuais. A postura nunca era inequívoca, e uma combinação de sexo, classe e gênero pode por vezes ser vista atuando nestas regulamentações. Em 1420, [...] A distinção de classe moderava, neste caso o preconceito racial. (RICHARDS, 1993, p. 111-112)
Na cita acima cotejamos o esforço imaginativo em correlacionar o preconceito que ocorria com os judeus com o que ocorreu posteriormente com os negros estadunidenses do outro lado do Atlântico. O autor mostra como ocorre o enredamento das categorias de raça/etnia, sexo/gênero e classe. Na realidade hispânica com Anthony Marx vimos que os inimigos internos para a formação da Coroa hispânica não foram somente os judeus, mas também os mouros. E que efetivamente cria-se o sentimento de Nós e do Outro via o sentimento de religiosidade ser cristão e não cristão numa Espanha católica.
Antes da colonização ibérica as viagens de comércio e as conquistas diante do continente africano, e, sobretudo, o convívio com os mouros e posteriormente com a experiência da escravidão da América produziu-se uma imagem do homem e da mulher negra bastante complexa. Nos estudos de Pinzón y Garay (1997) vemos que quando africanos foram arrancados de sua terra para serem escravos, já existia um imaginário colonial regional sobre a população africana. Este imaginário havia sido produzido na Europa e basicamente estava constituído em pilares sexuais Primeiramente, esse passado na Península Ibérica se configuraria no longo contato com os mouros, apesar de não existir uma homogeneidade no que diz respeito à interação face-face entre os mouros e população autóctone em todo território ibérico. Gilberto Freyre destaca:
A influência moura sobre a vida e o caráter português: da moral maometana sobre a moral cristã. Nenhum cristianismo mais humano e mais lírico que o português. Das religiões pagãs, mas também da de Maomé, conservou como nenhum outro cristianismo na Europa o gosto de carne. [...] As sobrevivências pagãs e as tendências para a poligamia desenvolvida ao contato quente e voluptuoso com os mouros. (FREIRE, 1993, p. 250).
Desta cita depreendemos a força sexual e a poligamia da comunidade negra completamente combatida na religião católica. A Igreja Católica contribuiu para a atribuição de noções de pecado, culpa e vergonha aos atos que transgrediam a rígida tríade de conceitos reguladores da expressão da sexualidade — casamento, monogamia e procriação. A contribuição da medicina, por sua vez, fez-se no sentido de deslocar o discurso acerca das "transgressões sexuais" da esfera do pecado para a esfera das patologias, das enfermidades, dos "desvios" sexuais. Neste sentido, tanto a religião como a ciência exerceram e continuam a exercer importante papel na formação da cultura sexual globalizada.
Desse modo, vimos que os países da Península Ibérica constroem o seu discurso nação antes do cientificismo do século XIX, que se pauta na idéia de raça. Foi no final do século XIX que o discurso científico sobre a raça ganhou o contorno mais autorizado na construção formal do nacionalismo laico. Em terras coloniais ibéricas e no empreendimento da construção do Estado – Nação o discurso da mestiçagem foi conjugado com a eugenia racial, bem como a construção do mestiço foi imaginado através do intercurso sexual do homem branco com a mulher nativa ou preta.
Em seu texto “Reconstructing black masculinity hooks” (1999) analisa a relação dos afro-estadunidense com o modelo patriarcal de masculinidade. A autora nos conta que nas comunidades negras tradicionais quando se diz a um homem que seja um homem, este homem está sendo levado a uma identidade masculina baseada no ideal patriarcal. A autora debruçar-se na literatura teórica sobre os afro-americanos verificando que na sua grande maioria ela está baseada na vida de comunidades negras urbanas e nos oferece uma visão de uma masculinidade negra homogênea. A autora tece uma crítica pela pouca profundidade que tem essa literatura ao lidar com a construção convencional da masculinidade patriarcal, bem como o homem negro sofre o processo de interiorização desta norma ao longo da história. hooks (1999) denuncia que estes textos descrevem todos os homens negros como fracassados, psicologicamente perigoso, violentos, maníacos sexuais, cuja enfermidade deriva da incapacidade de cumprir com o destino masculino patriarcal no contexto racista. Para a autora, muitos afro-estadunidenses absorveram pacificamente estas representações limitadas da masculinidade negra.
Na literatura brasileira de base nacionalista deparamos com o mito da miscigenação, cujos homens indígenas e negros foram negados, enquanto contribuintes da taxa de fecundação dos brasileiros legítimos. A virilidade do homem negro foi invisível, rechaçada e controlada pelo discurso nacional brasileiro. No investimento sobre a formação do caráter brasileiro, Leite (2002) menciona a fase romântica do nacionalismo como uma etapa que se encontra uma imagem positiva do Brasil e dos brasileiros, embora denuncie que José de Alencar não consuma o casamento da “moça branca com índio, o que talvez uma forma de preconceito contra os indígenas” (p. 228).
Posteriormente, com os estudos sobre relações raciais do Brasil, Laura Moutinho compila uma série da literatura brasileira que mostra que o casamento entre o homem negro e a mulher branca é um tabu, cuja transgressão acarreta uma desgraça para o casal. A autora apresenta as estatísticas das uniões inter-raciais (ou heterocrômicas) como mais reduzidas do que se imaginava, mostrando que o nosso padrão de casamento é endogâmico (em torno de 80 por cento das uniões acontece dentro dos mesmos grupos de cor). A interpretação dada a esta constatação é de que existe um superávit de mulheres brancas no mercado matrimonial, com efeito, o casamento inter-racial destas com os homens pretos e pardos é mais freqüente que o contrário (uniões de mulheres pretas e pardas com homens brancos). Levam-se em conta as influências das posições de classe. As estatísticas sugerem que os padrões de endogamia racial são mais elevados à medida que a posição social dos indivíduos se eleva. Constata-se que esses padrões de endogamia são relativamente estáveis ao longo do tempo, uma vez que suas proporções têm se mantido, através dos censos dos últimos cinqüenta anos, praticamente inalteradas. Laura Moutinho cita os estudos de Elza Berquó sobre o estado conjugal das mulheres segundo a cor, que apontam para o “alto celibato entre as mulheres pretas” porque estas se apresentam num percentual mais elevado entre as solteiras. É preciso indagar se nas estatísticas aparecem o número de relações extraconjugais ou uniões não legalizadas de homens não negros com mulheres negras.
Em Cuba colonial temos o estudo realizado por Verena Stolcke que se centra nos matrimônios inter-raciais, em sua análise vem à tona as concepções sobre as mulheres brancas esposas legítimas e mães, em contraposição as mulheres negras que são alvos da violência sexual. Vejamos a cita abaixo:
La considerable proporción de mulatas y mulatos en la población de Cuba era con frecuencia fruto de los abusos sexuales a que se veín sometidas las mujeres de “color” por parte de los hombres blancos, rara vez dispuestos a legitimar a los hijos nacidos de estas uniones. Así, las relaciones interraciales tenían consecuencias trascendentales para la vida familiar de las esclavas y de las mujeres de “color” libres.(STOLCKE, 2003, p. 142).
Seguindo a idéia de que a mestiçagem era tipicamente o resultado de relações sexuais entre homem branco e mulheres negras livres ou escravas, Stolcke se apropria dos estudos de Schwartz que versa sobre a Bahia Colonial, cujo conteúdo permite a comparação com o modelo de Cuba, no qual as mulheres negras livres ou escravas tendiam a estarem com homens iguais ou superiores a elas na hierarquia racial, enquanto que os homens de “color” estariam com mulheres que eram igual ou inferior a eles.
A partir da idéia de que existe um mito fundador que abarca a sexualidade dos africanos ou afro-descendentes, inclusive aparece com contornos diferentes numa perspectiva de sexo/gênero e de discurso nação, cujo conteúdo finca-se no caso ibérico na possibilidade da reprodução do mestiço. Nesta linha aparecem duas idéias vinculadas ao imaginário sobre o varão negro, a primeira com mais força na literatura anglo-saxônica: o varão negro perigoso e maníaco sexual. A segunda, a invisibilidade da relação inter-racial entre a mulher branca e o homem negro.
Considerando o breve espaço desta escrita, seleciono as três falas elaboradas pelos varões negros sobre esta pauta, cujo conteúdo nos ajudará a problematizá-la em três direções: o determinismo biológico, o determinismo geográfico e as implicações do corpo fragmentado masculino racializado. Muitos dos imigrantes não chegaram diretamente na Península Ibérica, mas sim de outros grandes centros ou metrópoles, com efeito, alguns são conhecedores do atrativo sexual da pele negra na Europa, portanto esse atrativo não se limita ao território galego. Podemos verificar através de depoimentos de migrantes que já migrou para outras partes da Europa: O mito que eu tinha... Tive um professor, por sinal foi uma pessoa muito importante na minha vida na época da faculdade, que me definiu unas coisas. uma dessas pessoas que tinha definições da vida que se aplicava. Perdia tempo conversando com esta pessoa sentava num bar, conversamos da vida e ele me disse uma vez quando eu todo contente conversando com ele que tinha a idéia inocente essa... De que quando eu fosse para Europa eu iria brilhar no terreno sexual... Eu tinha essa idéia e ele me disse: agora você tem que ter a idéia de que lá você vai ser um pedaço de carne... Você vai ser um pedaço de carne, você não vai conseguir... Não sei se você vai conseguir aprofundar e manter uma relação estável e discutir os problemas da vida e trabalhar sobre ele... ou seja, ter uma família neste sentido organizada, quando você quiser ter uma família, porque se você vai com esse pensamento é o que você vai encontrar ...então, enquanto você for carne você vai ter a possibilidade de ser somente na superfície ... Eu gravei isso... Infelizmente gravei isso... E quando cheguei aqui vi o quanto isso era verdade, quando eu quis, quando também não quis... Não negociava com o mito, tinha ele presente... Mas certo me deixava intranqüilo neste sentido. (brasileiro, 39)
Nesta citação vemos que o nosso interlocutor já era munido de informações acerca da atração sexual que o europeu ou européia possuem sobre o varão preto, mas ao mesmo tempo, sabia do risco de ser reduzido ao seu sexo. Para ele a montagem do homem preto, enquanto objeto sexual alheio era um dado concreto. Se ele enquanto sujeito baixasse cabeça nesta produção do Outro, ele não conseguirá integrar-se a este novo mundo como cidadão completo, mas sim, como um fragmento. Seguiremos abaixo com os atos performativos masculinizados marginalizados citados pelos varões negros:
Sinto-me mal quando falam certas coisas que não são verdade às pessoas aqui falam sobre a vida dos emigrantes os espanhóis não querem saber nada sobre os emigrantes os espanhóis e quando querem saber é o mal se tem pênis grande se não tem...e tal pega tão mal quando uma espanhola andar com o negro. (angolano, 32)
Este depoimento esclarece que apesar do estereótipo da força sexual masculina ser considerada positiva no âmbito do mercado sexual ou erótico, nem todos concordam com esta positividade, e expõem esta preocupação como algo vinculado ao Outro, neste caso o imigrante. Existe também a idéia de este mito atribuído ao negro afeta diretamente a mulher branca que se encontra relacionado com eles. Na cita abaixo vejamos como o nosso interlocutor reflete sobre a pauta:
Tem um lado positivo e negativo, então fala que tem uma cultura dos poetas das musicas tradicionais, mas hoje as mulheres têm uma inquietude essa vontade de saber como é... Mas escondidinho,... Hoje em dia esta cada vez mais fácil ver galega com braço dado com o negro toda orgulhosa sabe, mas é difícil realmente que as pessoas galegas assuma que o mito es um mito as pessoas são dependentes das constituições como posso dizer dessa constituição de raça, sabes, porque o homem pode ser sexualmente ativo tanto o negro quanto e pode ser também impotente ...como non? E também é outra coisa negativa um menino que tem uma aqui hai moitos imigrantes que vem africanos, brasileiros que em seu país não tem tanta experiência sexual sabes, e quando vai ter uma relação com a menina ...essa paranóia de ter o mito e essa menina esta comigo porque crê que vai dá , eu tenho membro viril porque é natural meu que Deus deu, deu meus pais deu a minha raça, mas eu não vou render suficiente, porque eu não tenho tanta experiência sexual...entendes, donde quero chegar? Entende? Eu tive esta sorte porque eu tenho uma experiência detrás porque eu venho do Brasil e ali respirar sexualidade as pessoas são muito abertas na Bahia são outra vez aberto, falam de sexo abertamente se tocam se abraçam... não tem paranóia os amigos me falam tive com uma menina ontem e não rendi cara não me levantou sabes, estas besteiras ES assim...Sabes dá” (brasileiro, 42 anos)
Nesta cita vemos que o interlocutor diante da sua trajetória migratória pondera diante das diversas facetas da pauta. A primeira é como a mulher desafia a ordem do mito, quando se encontra de mãos dadas com negro na rua , ou seja, escancara a relação no plano público. A segunda que é difícil de um modo geral, sobretudo que as pessoas brancas entendem que isto não passa de um mito, no sentido mais etimológico de narração publica de feitos lendários da comunidade. A terceira pode ser a própria desintegração do mito, por conta da totalidade de expectativa do Outro e do agente reprodutor não corresponder ao mito. A quarta é como as relações inter-sexuais/amorosas poderiam ser menos problemáticas com aberturas e verdades.
Considerações finais
De uma forma geral podemos apreciar que no processo de estruturação da fabricação do Outro, bem como nas citas dos varões do aqui-agora em função do imaginário (pauta) do homem negro aparece de forma coexistente aos determinismos religiosos, biológico e geográfico. Destas dimensões poderíamos refletir que existe a necessidade do princípio de verdade no imaginário, é como se o significante tivesse que ter a materialidade. Deste conjunto que constituem a pauta apreendemos as três repetições nos atos performativos que se enlaçam com a raça e a sexualidade: o vigor físico, o tabu inter-racial e o tamanho do pênis. A partir deste conjunto podemos nos indagar sobre estes atos performativos, quer seja no âmbito do cotidiano destes sujeitos, quer seja no âmbito das Ciências Sociais.
Será que em tempo atuais podemos considerar que existe a liberdade no desejo sexual das mulheres brancas e dos varões subalternizados brancos na relação com o varão negro? Em que medida estes desejos desafiam o tabu do casal inter-racial. Em que medida o enredamento de classe, raça/etnia e gênero/sexo se complexifica na dimensão do desejo? Acredito que alguns estudiosos podem tentar responder de forma ligeira, sem aprofundar na questão no âmbito do desejo. De um lado, nos estudos de base estatística insinua-se que existe um mercado matrimonial escasso do homem branco, daí as mulheres brancas se relacionarem com o OUTRO. Do outro lado, os estudos sobre turismo no Caribe afirmam que essas mulheres brancas estão situadas fora de um mercado estético mais exigente. A meu ver estas respostas só fazem respaldar a moralidade da masculinidade hegemônica, porque efetivamente despreza a dimensão do desejo que podem ser repetidos, mas nem sempre a repetição é uma cópia fiel, quer seja por parte do varão negro, quer seja por parte do varão gay ou da fêmea, ambos subalternizados. Será que é no campo do desejo que os seres humanos podem ser verdadeiramente surpreendidos? Apesar de não se situar fora da cultura ou de todo que nos é imposto? Será que neste campo que nos reencontramos com a dignidade perdida pela serialização dos seres humanos enredados na classe, prestígio social, sexo/gênero, raça/etnia e nacionalidade?
Será que esta valorização do mito fundador vinculado à sexualidade excessiva do Outro é pertinente no que diz respeito à passagem entre o capitalismo escravocrata patriarcal e capitalismo pós-moderno falocêntrico no campo do poder? Quem ganha e quem perde? Ou, nada muda. Será que é possível os varões imigrantes pretos da segunda diáspora articular sua auto-figuração no espaço, no qual a linguagem, os signos culturais, o mercado de trabalho e outras tecnologias de expressão situam num lugar de marginalidade, de um não eu, ou de um eu incompleto?
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*Suely Masseder é professora de Antropologia na Bahia
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