"A busca da reconciliação"
Os que cometeram crimes deverão ter palavra nesse Bantabá di kombersa para reconhecerem os seus erros", escreve Odete da Costa Semedo em crónica publicada na edição de fevereiro da revista África21.
Um ditado mandinga diz que nenhuma guerra é nova, que todas as guerras são guerras velhas porque há sempre um problema que não se resolveu a seu tempo. Essa questão mal resolvida permanece na mente das pessoas, quiçá na sociedade, como uma espécie de fogo de monturo, com cinzas frias por cima e chamas ardentes no seu interior. E o fogo reacende a cada aragem. Um pequeno sopro é capaz de espalhar as cinzas e reavivar a labareda.
Este adágio foi-me dito no meio duma conversa com um velho amigo, com o qual, juro-vos, já não contava que estivesse entre os poucos que nos restam, pois cheguei a pensar que ele tinha sido engolido pelos solavancos sociopolíticos. E seria uma pena, porque é um amigo que já tinha virado parente e até família...
Na conversa com esse irmão, veio à tona o tema como reconciliar os guineenses. Ele falou na hipótese de um diálogo nacional por meio do qual todos poderiam lavar as suas mágoas, porque crê, e eu também, que há muitas mágoas em cada um de nós, recalcamentos por as pessoas se sentirem oprimidas, sem espaço para um desabafo sequer.
Para esse amigo, muitos foram vítimas da intriga palaciana e de intrigas domésticas entre companheiros. Situações em que o delator, na busca de ascensão, faz duma passada um atentado à soberania do Estado, vendendo os próprios amigos e a alma.
Perdi um irmão em circunstância idêntica e conhecia os mentores, contou com mágoa o meu interlocutor! Porém, senti-me animada porque não pressenti raiva nem rancor na sua fala. Teria ele se conformado, ou terá superado a dor?