Não a uma nova guerra em Moçambique

A República de Moçambique, na África Oriental, tem uma taxa de crescimento da população de 2,8% ao ano, o que chega aos 24 milhões de habitantes em que 27% deles estão desempregados. Recentemente, a União Europeia anunciou para 2014 o fim das restrições à comercialização moçambicana com os europeu

A República de Moçambique, na África Oriental, tem uma taxa de crescimento da população de 2,8% ao ano, o que chega aos 24 milhões de habitantes em que 27% deles estão desempregados. Recentemente, a União Europeia anunciou para 2014 o fim das restrições à comercialização moçambicana com os europeus. Isso tem um impacto na economia para ajudar a alavancar as exportações de tabaco, peixe, alguns minérios e o próprio turismo do país africano, cujos valores monetários ultrapassam a casa dos 2 bilhões de dólares em negócios até 2023.

Apesar da euforia, fontes do Ministério das Finanças dão como certa a redução do auxílio financeiro vindo de Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça e Espanha, por causa da turbulência porque passsam esses e demais nações na Europa. Os cinco países formam o G-19 grupo de 19 governos que sempre acolheram as demandas de Moçambique, seja no campo das finanças ou apoio político. Caso essa proposta se confirme, as reduções da ajuda internacional vão comprometer o orçamento da Repúblca de Moçambique, atingindo em cadeia obras, ações governamentais e rebaixar a capacidade do Estado em intervir nos diversos conflitos de interesse dos grupos locais.

Como exemplo dessa repercussão nos assuntos internos de Maputo, a crise do euro vai criar uma expectativa negativa nas conduções políticas para 2013, já que a previsão de contratar 13 mil novos servidores públicos não será realizada. Todavia, a tragédia poderá ser menor se o Banco Mundial manter a promessa de aumentar os investimentos em 210 milhões de dólares para os mega-projetos.

Portanto, se no campo econômico há boas e más projeções, é no campo político que a situação de Moçambique causa a maior preocupação dos últimos 20 anos, uma vez que o sucesso de sua insipiente pacificação traz, de novo, a necessidade de se manter em alerta o cenário civil e militar na ex-colônia portuguesa. Depois de 16 anos de intensa guerra civil, entre 1976 e 1992, Moçambique vive um quadro de negociações incertas quanto à mediação das rusgas do conflito armado que assolou a geografia, trouxe mazelas sociais de toda sorte e ainda requer cuidados para que a população obtenha acesso aos serviços mínimos de saúde, educação, alimentação e saneamento básico, nessa que é uma potência petrolífera e mineral que ainda está adormecida. Já que a vitória conduzida pelo hábil Samora Machel com o beneplácito da ex-URSS e de Cuba, corre sérios riscos de ruptura institucional com o anúncio de antigos opositores do regime que apostam numa eventual volta ao conflito armado.

A Renamo ( Resistência Nacional Moçambicana), principal porta-voz dos descontentes e opositora de maior envergura eleitoral, reclama dos poucos espaços que possui na conturbada engrenagem de poder ente os moçambicanos. Já a Frelimo ( Frente de Libertação de Moçambique), fiel à sua inspiração marxista e no poder desde o fim da guerra civil, relata diversos episódios onde militantes da Renamo desfilam em frente aos órgãos públicos com portento amparato militar. No entanto, a Renamo possui quase nenhuma presença nas Forças Armadas e tem, ainda, pequena força nas organizações da sociedade civil. Mas o estopim para o aumento das discordâncias foi a recente votação de leis eleitorais, onde a Frelimo, que tem 191 cadeiras no Parlamento, conseguiu a aprovação da maioria das propostas contra os apenas 51 votos ( cadeiras) da Renamo. Pórem, o que os opositores reunidos em Gorongoza, na região central, têm em perspectiva são as eleições gerais e para Presidente em 2014. E caso os rumos econômicos tenham mais projeções boas do que más, a Frelimo entrará no processo para escolha do novo mandatário nacional com franca vantagem, mesmo tendo no páreo a empresária Filomena Mutoropa, toda-poderosa e secretária-geral do Pahumo ( Partido Humanitário de Moçambique ), primeira mulher a exercer um cargo dessa magnitude no país.

Isto é, a possibilidade de uma nova guerra na África, assim como vem ocorrendo no Sudão, Mali, Tunísia e no Egito, não interessa a nenhum dos lados envolvidos nesses conflitos, seja por meio de agitações de massa, troca de farpas na imprensa ou no conflito armado propriamente dito. Isto porque se ainda faltam fatores que levem ao amadurecimento da democracia nessas nações no campo político, há enormes possibilidades no campo econômico que vão consolidar a região africana no globo como forte candidata para enfrentar o jogo das potências capitalistas e se contrapor ao imperialismo usando tudo o que a África tem de melhor: riqueza, gente e espaço territorial. Haja vista que ainda hoje são os interesses estrangeiros que isuflaram tais guerras e é, justamente pelo uso dessa capacidade, que o renascimento africano poderá trazer alentos às nações do continente, a exemplo de movimentos como a Primavera Árabe.

*Alexandre Braga é africanista, Diretor Nacional de Comunicação da UNEGRO e especialista em Gestão de Política Pública pela UFOP-Universidade Federal de Ouro Preto. Contato em: [email][email protected]

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