A respeito da violência
Através dos textos de Frantz Fanon, A RESPEITO DA VIOLÊNCIA apresenta material de arquivo e várias entrevistas, relatando fragmentos da história dos povos africanos e das lutas pela liberdade e independência. A modernidade da proposta estética de A RESPEITO DA VIOLÊNCIA propõe ao público uma nova análise dos mecanismos do colonialismo, permitindo uma outra leitura das origens dos conflitos actuais.
“O colonialismo não é uma máquina de pensar, nem um corpo dotado de razão. É a violência em estado primitivo e não pode submeter-se senão perante uma violência maior.” Frantz Fanon, Os Condenados da Terra, 1961
O IndieLisboa, a Reitoria da Universidade de Lisboa e a Alambique apresentam uma sessão especial do filme A RESPEITO DA VIOLÊNCIA, de Göran Hugo Olsson, na Aula Magna, na próxima quarta-feira, dia 29 de Abril, às 21h.
Através dos textos de Frantz Fanon, A RESPEITO DA VIOLÊNCIA apresenta material de arquivo e várias entrevistas, relatando fragmentos da história dos povos africanos e das lutas pela liberdade e independência. A modernidade da proposta estética de A RESPEITO DA VIOLÊNCIA propõe ao público uma nova análise dos mecanismos do colonialismo, permitindo uma outra leitura das origens dos conflitos actuais.
Com excertos ligados à história do colonialismo português em Angola, Moçambique e Guiné, A RESPEITO DA VIOLÊNCIA tem particular ressonância entre nós no ano em que se assinalam os 40 anos da independência dos países africanos de língua oficial portuguesa.
Publicado em 1961 com prefácio de Jean-Paul Sartre, Os Condenados da Terra é uma última mensagem do autor e médico antilhano Frantz Fanon. Defensor dos direitos dos povos colonizados, Frantz Fanon tentou ao longo da sua vida analisar as consequências psicológicas da colonização em ambas partes.
“Em A RESPEITO DA VIOLÊNCIA, queremos dar um passo em frente no trabalho com material de arquivo. A posição única da Suécia, sendo oficialmente neutra, mas também apoiando materialmente o ANC (African National Congress), permitiu que realizadores e jornalistas criassem imagens únicas e deslumbrantes desta altura decisiva da história. Quando se vê estes filmes hoje, fica-se chocado com o quão parciais eram e com a maneira como os realizadores estavam totalmente perdidos nas suas opiniões políticas. A utilização de material de arquivo mais antigo revela perspectivas e preconceitos que são evidentes, permitindo aos espectadores ver para além deles. Precisamente por o material ser de um período anterior, abre discussões provocadoras sobre questões actuais…” - Gorän Hugo Olsson, realizador
A sessão será seguida de um debate moderado por António José Teixeira (Director SIC Notícias), com a participação de Manuela Ribeiro Sanches (Centro de Estudos Comparatistas - ULisboa), Margarida Cardoso (realizadora), Paulo Granjo (Instituto de Ciências Sociais - ULisboa) e Rui Tavares (historiador).
A RESPEITO DA VIOLÊNCIA estará em exibição no Cinema Ideal e no Cinema NOS Dolce Vita Porto, a partir de 30 de Abril.
A RESPEITO DA VIOLÊNCIA é, simultaneamente, um documentário baseado em material de arquivo que abrange os momentos mais ousados da luta de libertação no Terceiro Mundo e uma exploração dos mecanismos de descolonização através de excertos de Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon. O livro de referência de Fanon, escrito há mais de 50 anos, continua a ser um instrumento essencial para compreender e esclarecer o neocolonialismo que se verifica hoje em dia, bem como a violência e as reacções contra este.
Em plena Guerra Fria, realizadores radicais suecos procuraram captar em primeira mão os movimentos de libertação anti-imperialistas em África. Com as suas gravações em 16mm, encontradas nos arquivos da televisão sueca, o realizador Göran Hugo Olsson serve-se da sua experiência na feitura de BLACK POWER 1967-1975 (2011), para criar uma narrativa visual a partir de África – imagens da busca de liberdade, da Guerra Fria e da Suécia. Os realizadores suecos, com o seu espírito de solidariedade com as lutas anti-imperiais e socialistas em todo o mundo na época, criaram imagens e histórias que ainda hoje ecoam e podem alterar e aprofundar a nossa impressão do mundo globalizado em que vivemos.
As pessoas captadas por esses realizadores lutaram com a vida pela sua liberdade e pela de outros. O material de arquivo único inclui uma incursão nocturna com o MPLA em Angola e entrevistas a guerrilheiros da FRELIMO em Moçambique, bem como a Thomas Sankara, Amílcar Cabral e outros revolucionários africanos. As imagens são fantásticas: filmes definidos, nítidos e únicos que transmitem o sentimento de urgência e dedicação que se encontrava no âmago dos movimentos de descolonização.
“Libertação nacional, renascimento nacional, restituição de nacionalidade ao povo: quaisquer que sejam os cabeçalhos usados ou as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é sempre um fenómeno violento.” Recorrendo a imagens, entrevistas e uma voz que narra e guia os espectadores através do material com as palavras de Frantz Fanon, A RESPEITO DA VIOLÊNCIA conta a história das pessoas e das ideias por trás de uma das lutas mais urgentes pela liberdade e mudança do século XX. A organização do filme em nove capítulos relaciona ideias bastante abstractas com imagens concretas e pessoas reais que personificam e transportam a história.
Criando uma forma única na sua mistura de ensaio cinematográfico e documentário de material de arquivo, A RESPEITO DA VIOLÊNCIA reintroduz a visão humanista e pós-colonial de Fanon através de uma viagem cinematográfica que nos coloca cara a cara com as pessoas para as quais os escritos de Fanon sobre a descolonização não eram apenas retórica mas uma realidade.
Ao complexificar o texto de Fanon com material de arquivo, design gráfico e música com um tom contemporâneo, o realizador Göran Hugo Olsson oferece a uma nova geração de espectadores um reexaminar da maquinaria do colonialismo que está na raiz de muita da violência que vemos irromper no mundo actualmente.
Göran Hugo Olsson nasceu em 1965, em Lund, na Suécia. Formou-se na Real Academia de Belas Artes, em Estocolmo, e é um dos mais destacados realizadores suecos a nível internacional. É documentarista, director de fotografia e inventor (a A-Cam, uma câmara de Super 16mm). Foi o editor e co-fundador do programa de televisão de curtasmetragens documentais IKON (SVT).
O seu filme anterior, BLACK POWER 1967-1975 (2011) transformou-se num enorme sucesso em festivais, cinemas e transmissões televisivas no mundo inteiro. Desde 1999, Olsson é membro do conselho editorial da Ikon South Africa – uma plataforma para o documentário de criação na África do Sul por realizadores dos municípios negros, em cooperação com a emissora nacional sul-africana SABC.
Texto publicado em Bualar.org
*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
* PUBLICADO POR PAMBAZUKA NEWS
* Pambazuka não está garantido! Torne-se um! amigo do Pambazuka e faça uma doação AGORA e ajude o Pambazuka a manter-se GRATUITO e INDEPENDENTE!
* Por favor, envie seus comentários para editor[at]pambazuka[dot]org ou comente on-line Pambazuka News.