Obama e o racismo no ocidente: o que isso significa pra África?

Obama e o racismo no ocidente: o que isso significa pra África?

Africanos de todo tipo de background, acadêmicos e governantes ha muito estão preocupados com a imagem da África no ocidente. Mais recentemente, os países tem sido encorajados a se re-definirem por conta dos mercados ocidentais e seus empreendedores, passando de um lugar de animais selvagens e pessoas semi-nuas para espaços modernos onde negócios podem ser conduzidos com eficiência e as línguas podem ser entendidas por estrangeiros. Como esta reformulação da África como um espaço empreendedor se ajusta com uma persistente imagem negativa dos povos do continente?

Na maior parte do mundo, e em particular no ocidente, estas imagens tem raízes históricas profundas, e foram usadas para justificar a escravidão, o colonialismo, a acumulação pelo roubo e continuas relações comerciais desiguais que existem entre a África e o ocidente. Apesar de centenas de anos de esforços do africanos que moram no ocidente para mudar essas imagens, elas continua maser propagadas. Para muitos no ocidente, a única saída para a imagem do continente melhor e que a África tome o destino em suas próprias mãos – para melhorar a vida de seus povos, através de melhora ao acesso ao serviços que protejam a vida humana. Entretanto, uma alternativa surpreendente e a ascensão de descendentes de africanos para posições de poder no ocidente.
A eleição da família Obama para a presidência dos Estados Unidos tomou a direta norteamericana, senão o mundo todo, de surpresa. Nos Estados Unidos, a imprensa da direita parece determinada a forçá-lo a sair prematuramente da presidência. O então chamado ‘birther movement’, está tentando convencer o povo de que Obama não é Americano.

Obama está enfrentando a mais afiada crítica de todos os lados, enquanto batalha para conseguir melhoras mínimas para a vida da classe média e dos pobres norteamericanos. Para alguns setores da esquerda, Obama não é diferente do antigo presidente George W. Bush. Entretanto, a presença dos Obamas, seu intelecto e dignidade e simplicidade trouxe a humanidade dos negros de novo ao palco mundial, e tornou sua negação pelos racistas ainda mais difícil. A presença deles desafia e desestabiliza noções de branquitude e supremacia branca.

A resposta tem sido um crescente movimento revisionista evocando imagens racistas e historicamente preconceituosas dos povos negros na cultura ocidental como uma forma de reforçar a supremacia branca. Algumas reações indecentes recentemente são, por exemplo: a vontade da BBC (British Broadcasting Coorpotation) em dar espaço para um partido político racista na forma do British National Party (BNP) para expressar sua política de ódio racial. O argumento do repórter é que este é um partido político legitimo, com representantes locais e europeus, e que eles tem o direito democrático de expressar suas visões. O que a BBC não percebe é que eles tem a responsabilidade de não causar dano aos seus contribuintes não-brancos. Pode-se ficar impressionado com as políticas deste partido no que concerne saúde, educação e até mesmo imigração, mas um partido cujo modus operandi é o ódio racial, que ataca a essência do ser, é um ultraje.

A BBC por acaso mostrou sua usual mensagem de advertência para as pessoas que ficam perturbadas pela visão após a mensagem na televisão? Teria a BBC sancionado o papel que a Rádio Televisão Livre de Milles Collines teve durante o genocídio em Ruanda? Um bando de pequenas celebridades gritando afirmações racistas e voltando a trás quando são acusadas de serem racistas. Esta tem sido uma prática comum na cultura Britânica, onde a visão popular é que quase ninguém na Inglaterra é racista, nem mesmo há partido político fascista, e se os negros reclamam, significa que a postura política enlouqueceu.

Ter um debate sensível sobre o racismo que permeia a cultura Britânica e suas instituições é quase sempre bloqueado pela hostilidade daqueles que buscam manter seus direitos de serem racistas, bem como de ter pelo menos uma piada pra contar! A ansiedade com que o virulento anti-imigração presidente italiano Silvio Berlusconi enfrentou em ter que conferir a um homem negro uma liderança em paridade com a sua, levou-o a chamar a atenção para o fato de que a pele de Obama era ‘bronzeada’. Em 15 de outubro de 2009, uma jornalista associada, Liz Sidoti, descreveu Obama como ‘irritantemente articulado’. [1] Parece, então, que muitos americanos ficam mais confortáveis com um homem branco inarticulado, AKA George W. Bush, do que com um homem negro não-digno de pena. Uma outra reação, é invocar imagens estereotipadas do negro do passado. Recentemente, a revista de moda francesa French Vogue colocou uma modelo branca vestida em suas roupas tribais. [2]. Isso segue a renovada critica sobre a ausência de modelos negras nas passarelas e ainda mais nas capas das revistas femininas. Muitas pessoas alegam não perceber o que há de ofensivo nisso. Apenas porque uma revista não usa uma modelo negra só pode ser uma piada.Não resta duvida de que isso foi um projeto cuidadosamente planejado para causar uma reação ou para se fazerem afirmações. Claro que nada do mencionado acima se compara às inumeráveis ameaças à vida de Obama pelos supremaciastas brancos – registram-se de 30 a 40 ameaças por dia, mais do que 400% em relação aos seus antecessores. [3].

Pode-se apenas esperar mais incidentes raciais ao passo que depressão capitalista, combinada com o desafio da supremacia branca, force a saída do armário de mais racistas, e a promoção de um imaginário racista também. Acadêmicos norteamericanos, percebendo-se o significado da raça na sociedade americana, começaram a apontar para o efeito Obama cientificamente, num nome e crescente campo de pesquisa chamado ‘Obama Studies’ – olhando para os efeitos de Obama nas atitudes raciais nos Estados Unidos. As conclusões são variadas, tais como por exemplo, os brancos que votaram em Obama são mais ‘inclinados a votar em brancos no futuro’ , sentindo que eles já provaram suas credenciais morais ao votarem agora em Obama.[4]

Alguns pesquisadores esperam que isso encoraje mais americanos brancos a ficarem mais confortáveis ao discutirem raça. Entretanto, a reação a acusação de Jimmy Carter quanto as críticas a Obama serem motivadas pela raça, ate mesmo porque Obama ele mesmo, sugere que a America ainda não atingiu um momento de diálogo de fato.
O que a presença dos Obamas realmente significa pra África, militarmente, politicamente e economicamente tem sido debatido nessas páginas. Também tem sido notado algo sobre a sua presença simbólica em termos de o que isso significa pra uma América branca em abordar e ultrapassar seu passado escravagista. Alguns comentarias brancos também clamam que os Estados Unidos entraram numa era pósracial, onde o racismo não é mais um fator em definir o que você é.

Eu não acredito que muitos afro-americanos teriam apoiado essa posição, e certamente não aqueles afetados pelas ondas de assassinatos apos a eleição de Obama. Podemos desembrulhar o significado simbólico da presença de Obama no palco mundial, conscientes de que um amigo intimo disse apos a posse de Obama: “Há muitos presidentes negros – o que ha de especial sobre este?”
Para começar, ele é o presidente de um decadente, ainda que poderoso império. Ele é o presidente de um pais onde as políticas raciais estão além da superfície apesar dos ganhos legislativos; onde um em cada nove afro-americanos homens entre 20 e 34 anos estão atrás das grades, e onde, de acordo com o prêmio Nobel indiano Amartya Sen, afirma em seu livro “Desenvolvimento como liberdade”, a expectativa de vida media de um afro-americano e abaixo da de um homem no estado de Kerala, na Índia.

Entretanto, eu gostaria de olhar três significados simbólicos da presidência de Obama. Para os africanos no continente, onde ser negro não é uma preocupação, o que se segue deve ser surpreendente. Primeiro, Obama e sua família simbolizam a habilidade de transcender a estreita categorização racial de modo a unir as pessoas em torno de um bem comum. Eles desafiam o sistema patriarcal liderado por machos brancos alfa e mostram as pessoas não-brancas, especialmente na América do Norte e do Sul e Europa, as possibilidades de transcender os caminhos da vida que foram escritos por ele e um futuro onde eles não podem ser excluídos ou passados pra trás. Talvez não seja mais necessário para os Afrocêntricos desenterrar as contribuições que os povos negros fizeram para a sociedade ocidental e para a modernidade – elas não podem mais ser deixadas de ser escritas na História.

Em Segundo lugar, num nível pessoal, a presença dos Obamas representa dar credito à santidade da família negra – apesar do ataque de Barack Obama à ausência dos pais negros na sociedade afro-americana – e o fato de que em todo lugar existem homens e mulheres que foram uma família estável, com amor e com sólidas relações. A imagem da família negra disfuncional e uma utilizada pela sociedade ocidental para desvalorizar o povo negro, e pelos negros mesmos para desculpar suas falhas pessoais – não de sua própria responsabilidade – em negociar uma existência de vida mais substancial em sociedades capitalistas. Finalmente, para as mulheres negras, a família Obama e particularmente importante, pois eles dão a elas seu próprio conto-de-fadas. Mulheres negras no ocidente, especialmente aquelas que sobreviveram a escravidão, não foram representadas em suas sociedades como sofredoras, mas pelo contrário, assim como os homens, elas foram potenciais causadores de problemas, prontas a pegar em armas para liberar seu próprio povo. Entretanto, a mídia, na forma dos primeiros filmes de Hollywood, prefere representá-las como gordas e mães assexuadas cuja tarefa foi servir a família branca, especialmente a senhora branca, como a personagem mostrada no filme E o vento levou.

Foi o ódio por tudo negro, e a negação das características da feminilidade negra como fio que fez o motivo de 1960 motivo “black is beautiful” como uma afirmação revolucionária. Desde a escravidão, as mulheres negras sempre lutaram para libertação da brutalidade da escravidão e das estruturas patriarcais e misoginia que os homens negros procuram impor em seus pertences posescravidão.
Quando as mulheres lutaram para manter suas famílias juntas neste assalto, elas foram taxadas de ‘super mulheres’. Nos anos 70, Michele Wallace no Black Macho and the Myth of the Superwoman desafiou este estereótipo que negava a mulher negra apoio emocional que elas mereciam como seres humanos. Na America dos século XXI, os preconceitos e estereótipos das mulheres negras como prostituta, vadia e puta.

Para a juventude em especial, a imagem dominante da a mulher negra é aquela de uma mulher nua se oferecendo a um homem branco vestido cantando letras misóginas. A visibilidade de Michele Obama, como uma mulher de pele negra, não uma mulata ou uma cara pálida de branqueadores, bonita, com um pensamento independente, educada e amável, desafia os estereótipos prevalecentes da mulher negra na América. A presença de Michele dá um empurrão em milhares de mulheres negras como ela e inspira a juventude que uma via alternativa de ser uma mulher negra no ocidente é possível.
Michele também teve sua quota negativa na impressa, que a descreveu durante a campanha eleitoral como uma figura negra guerreira no New York Times, ate a recentes acusações de ser egoísta, porque ela cuida do seu corpo e porque não se degenerou em algum tipo de estereotipo de quadrinhos.

Os piores críticos de Michele são as mulheres brancas. Deve haver uma miríade de razões para isso, mas deveríamos considerar as hierarquias raciais e de gênero que estão embebidas nas sociedades capitalistas ocidentais, onde a escolha de Obama por uma mulher negra desestabiliza aquelas mulheres cuja validade e derivada puramente de suas posições dentro das hierarquias. Em termos de política econômica global, a presença dos Obamas ocorre precisamente no momento em que o sistema capitalista, refinado e dominado pelo ocidente, encara sérios desafios do oriente.
A presença dos Obamas confronta visões de mudo hegemônicas e racistas e um sistema econômico que e dependente na perpetuação das hierarquias de gênero e raciais. O chamado sucesso da sociedade capitalista moderna foi construído sobre o racismo e o genocídio. Em um momento crucial na nossa história, como o balanço de força muda do ocidente pro oriente é incumbência de acadêmicos progressistas e ativistas o uso da presença dos Obamas no palco mundial taticamente; desafiar o racismo e o patriarcalismo não somente nos Estados Unidos e na Europa, mas no Brasil, Colômbia e China, de modo que o sistema econômico – seja ele uma variante do capitalismo ou não – que emerge nestas sociedades não continue a desumanizar os setores desta sociedade que são tidos como inferiores.

E SOBRE A IMAGEM DA ÁFRICA?
A imagem da África no ocidente é entrelaçado com atitudes em relação aos africanos no ocidente. Não ha dúvida de que Obama seja um cidadão norteamericano e será confiável e servirá aos Estados Unidos tão bem quanto milhões de homens e mulheres negros que lutaram nos exércitos americanos. Os africanos podem querem tomá-lo por seu filho, e podem expressar desapontamento quando ele segue as políticas que são contra o bemestar de seu continente. Mas eles devem lembrar que Obama foi criado por uma casa branca, embora em uma das quais, havia uma historia de superação de pobreza e na qual questões de justiça social eram levados muito a sério. Sua consciência política aconteceu nas áreas pobres de Chicago no South Side. Ele sabe muito mais o que significa ser um homem negro na América do que ser um africano no continente. Como irá a atual luta contra a exclusividade racial no ocidente impactar na África?
Se os africanos tornarem-se mais empoderados, talvez mais outros africanos começarão a questionar as afirmações dos acadêmicos ocidentais e dos especialistas em desenvolvimento, afirmações geralmente feita puramente na forca da superioridade assumida pela cor de sua pele e o legado do colonialismo branco.

Será que alguns africanos ainda desejarão doar seus filhos as mãos de algum astro pop branco que estavam tendo dificuldades em adotar em seus países? As mulheres negras vão parar de passar veneno em sua própria pele para ficar lavada e branca? E, irão os governos africanos começar a confiar em seu povo e permiti-los investir livremente em seus países, mais do que perseguir numa corrida até o fim para fazer seus países tornarem-se mais atrativos para investidores exteriores? Se os governos africanos não valorizarem a si mesmos e aos seus povos, então, como, num mundo tão debilitado por marcas de uma política racial, eles esperam os de for a, com uma superioridade encarnada, tratá-los como iguais?

Em resumo, concorrente com o empoderamento que a presidência de Obama deu à comunidade marginalizada no ocidente está a desestabilização da supremacia branca, o que deve resultar no aumento de atos racistas e violentos.No ocidente e na África, não-racistas de todo tipo deveriam estar vigilantes contra esses atos, não importa o quão pequeno, e ter consciência de que os atos mais insidiosos não acontecem verbalmente, mas são veiculados dentro de instituições, e especialmente, por técnicos de colarinho-branco nos laboratórios eugênicos do século XXI.

* Dr Patricia Daley é da diretoria do Fahamu Trust e pesquisadora no Jesus College, University of Oxford.?

*Traduzido por Alyxandra Gomes Nunes

* *Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org

NOTAS?
[1] Apareceu originalmente no bog de Ari Melber 15.10. 2009, e reproduzido em The Nation 'http://www.thenation.com/blogs/notion/484939/ap_asks_if_obama_is_obnoxi…?
[2] Hannah Pool, ‘ Why blacking up is the worst kind of fashion crime: Has French Vogue gone too far in its shoot of Dutch model Lara Stone?’, The Guardian Newspaper, 14 October 2009.?
[3] Veja ‘Why the Democracy Corp Study on race doesn’t pass the smell test’,