Pambazuka News 500 edições

http://www.pambazuka.org/images/articles/500/10_500.gifEstamos publicando o número 500 da edição do Pambazuka News em língua inglesa e, dentro de alguns meses, nós celebraremos nosso décimo aniversário. Difícil acreditar que algo que começou como uma iniciativa casual, para permitir aos ativistas e às organizações de direitos humanos na África a manterem-se atualizados e em contato umas com as outras via e-mail, se tornaria o que é hoje.

Afinal, no que o Pambazuka News se transformou hoje? Esta é uma pergunta surpreendentemente difícil de responder, já que significa muitas coisas para muita gente. Apesar do nome, não é um provedor de notícias: sim, é possível encontrar notícias e sim, nós tentamos resumir aqueles que acreditamos serem os acontecimentos mais importantes no continente dentro da nossa seção "Links and Resources" do newsletter (informativo eletrônico). Mas também é mais do que isso. Os artigos que publicamos não são (com poucas exceções) escritos por jornalistas, mas por uma grande (e cada vez maior) comunidade de aproximadamente 2.500 escritores, acadêmicos, bloggers, ativistas, organizações e movimentos. Assim, Pambazuka News é provavelmente o mais bem estabelecido, ainda completamente não reconhecido, exemplo de jornalismo cidadão - e o nosso newsletter nasceu muito antes deste jargão cair no uso comum. E ainda vai além de ser apenas um site para o jornalismo cidadão.

Pambazuka News foi desenvolvido para reforçar e apoiar o desenvolvimento de um movimento pan-Africano progressivo, que tem o compromisso de garantir que o povo do continente pode e vai determinar seus próprios destinos. Foi desenvolvido para permitir às pessoas 'se organizarem para se emanciparem com relação a todas as formas de opressão; reconhecerem suas responsabilidades sociais; respeitarem as diferenças existentes entre eles; e perceberem seu potencial.' [1]

O que nós procuramos fazer é fornecer uma plataforma, um espaço, para análises críticas a partir de uma perspectiva pan-Africana e emancipatória, que informa e arma aqueles engajados nas batalhas em nome da transformação social; e que permite que eles tenham suas vozes ouvidas acima da cacofonia gerada pela mídia corporativa. Nós procuramos ativamente facilitar a realização de conexões de solidariedade através do continente e da diáspora africana. Nós procuramos desmitificar o termo 'desenvolvimento' ao expor o saqueamento e a exploração sofridos pela população e pelos recursos naturais africanos por parte de corporações; agências humanitárias; pelas denominadas 'potências emergentes'; e pela nossa elite local. Nós permitimos que inúmeros movimentos sociais e organizadores de campanhas utilizassem a Pambazuka News para lutar por políticas sociais progressivas. Nós fornecemos espaços seguros nos quais assuntos relacionados à sexualidade e às questões sobre GLBTIs possam ser discutidos sem medo. E nós encorajamos debates e discussões sobre os assuntos críticos do dia-a-dia. Ao fazer isso, nós publicamos perspectivas que contrapõem: a caricatura superficial, paternalista e muitas vezes racista da África que é tão prevalecente na mídia internacional; e a mentalidade das ONGs e da indústria humanitária, os quais apresentam a África como objeto digno de pena, esperando pelo seu apoio. Mas acima de tudo, Pambazuka News retrata o povo da África como agente da mudança; pessoas que, apesar de todos os obstáculos, escrevem sua própria história através de suas batalhas diárias.

Mas se o nosso objetivo tem sido alimentar um movimento pan-Africano, nós reconhecemos que mesmo dentro do movimento há diversas perspectivas que necessitam ser expostas e discutidas. Nós não nos abstivemos de expor as divergências sobre assuntos como o programa de reforma agrária de Mugabe no Zimbabue, em Darfur ou em Ruanda. Uma discussão aberta e não-partidária incluindo diferentes perspectivas é uma pré-condição para clareza e, paradoxalmente, para construir a unidade.

Um dos princípios orientadores do Pambazuka News sempre foi o fato de nós termos concorrentes: enquanto outros desenvolvem newsletters, criam novos sites, tomam iniciativas semelhantes às nossas, nós comemoramos e procuramos dar a eles publicidades nas páginas do Pambazuka News.

Nosso número de leitores é relativamente modesto. Nós temos aproximadamente 26.000 assinantes e cerca de 600.000 visitantes do site durante o ano passado. Este índice de leitura foi construído principalmente através do 'boca-a-boca'. Nós não sabemos o verdadeiro índice de leitura atual; artigos do Pambazuka News são publicados regularmente no AllAfrica.com e em muitos outros sites. O levantamento do nosso número de leitores indica que em média, cada assinante encaminha o newsletter para outras cinco pessoas.

O grau no qual esta comunidade de leitores e de 2.500 autores contribuintes têm sido capazes de interagir uns com os outros até agora esteve limitado à escrita de artigos; ao envio de cartas ao editor; ou a comentários sobre artigos disponíveis online. Isso é algo que nós estamos tentando melhorar. Nos próximos meses nós lançaremos um novo site que permitirá interações maiores; espaço para os membros postarem informações sobre eles; postar artigos; iniciar debates; organizar campanhas; e participar de fóruns online, os quais intelectuais e ativistas serão convidados a moderar.

Cinco anos atrás, nós costumávamos publicar três ou quatro artigos originais por semana. Hoje, nós recebemos tanto material interessante que nós não temos escolha a não ser publicar entre 20 e 30 artigos por semana. Nós ficamos sabemos através de muitos de vocês que o volume - e também o cumprimento - destes artigos muitas vezes é exagerado. Nós mesmos temos problemas para ler e editar tudo. Se tivéssemos recursos, nós certamente lhes forneceríamos versões mais curtas dos artigos.

Estaremos sendo nós mesmos vítimas do nosso próprio sucesso? Em parte, sim. Dada a popularidade do Pambazuka News, há um número crescente de pessoas que gostariam de publicar com a gente. Mas eu acredito que este aumento no volume de contribuições também é um reflexo de algo muito maior que o Pambazuka News: durante os 10 anos da nossa existência, nós nos tornamos cada vez mais conscientes de que estamos vivendo em numa nova era marcada pelo aumento dos protestos; pelo ressurgimento do ativismo; pela re-emergência dos movimentos sociais que se recusaram a se render; pelo clamor por um outro mundo. Nós acreditamos que haja uma crescente falta de credibilidade com relação aos mantras vazios dos nossos 'líderes' nacionalistas, os quais venderam tantos dos suados frutos da independência; os quais fiscalizaram a privatização dos serviços públicos, da terra, dos recursos naturais; criaram a falta de terras, o desemprego (ou mesmo o não-emprego); e neste processo acumularam muita riqueza pessoal. O conceito de 'desenvolvimento' perdeu qualquer outro significado, e significa somente o processo de acumulação pela expropriação. Há um clima de descontentamento, de busca por alternativas a ideologia do saqueamento e do enriquecimento pessoal. É um clima que nós acreditamos que está sendo refletido no conteúdo dos artigos que são publicados no Pambazuka News.

Nos próximos períodos, enquanto a economia capitalista mundial continua a entrar em crise; enquanto a busca pela maximização de lucro evita qualquer medida razoável para deter e reverter a mudança climática; e enquanto a competição pelo acesso aos recursos naturais aumenta; a África enfrenta a ameaça de perder ainda mais o controle sobre seu próprio destino. Um movimento efetivo por justiça e liberdade se faz necessário hoje mais do que em qualquer outro momento na história. Se o Pambazuka News puder contribuir com a construção de tal movimento, então nós teremos vivido vidas que valeram a pena serem vividas.
Notas

[1] Declaração da Missão de Fahamu - Redes pela Justiça Social http://www.fahamu.org

*Firoze Manji é editor chefe do Pambazuka News.

**Texto gentilmente traduzido por Luciana Cruz, voluntária do programa das Nações Unidas Online Volunteer do qual a Fahamu e o Pambazuka News participam.

***Por favor envie comentários para [email][email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org