Os Eucaliptos da corrupção
Preferimos aqui a imagem simbólica do “EUCALIPTO” para expressar a verdade dos factos deste fenómeno da corrupção instalada na Guiné-Bissau há décadas, a sua consequente impunidade, geradora do impasse político e social e da estagnação do desenvolvimento global, um diagnóstico fulcral, que ultimamente tem inspirado cuidados intensivos por parte das autoridades do Ministério da Justiça no País.
Preferimos aqui a imagem simbólica do “EUCALIPTO” para expressar a verdade dos factos deste fenómeno da corrupção instalada na Guiné-Bissau há décadas, a sua consequente impunidade, geradora do impasse político e social e da estagnação do desenvolvimento global, um diagnóstico fulcral, que ultimamente tem inspirado cuidados intensivos por parte das autoridades do Ministério da Justiça no País.
Mais vale tarde do que nunca, se quisermos salvar o País do profundo estado debilitado em que se encontra, avaliado abaixo dos níveis dos índices de crescimento/desenvolvimento conseguidos desde o período pós-independência à esta data. Esta preocupação é um facto constatado no terreno, a existência de corrupção no aparelho do Estado e a impunidade “consentida”. Impera a lei do mais forte, usando dois pesos e duas medidas, entre uma luta desigual dos cidadãos perante a “lei”, no quotidiano social do Guineense. O cidadão mais fraco sofre abuso de direito, cometido por agentes da corrupção instalada, que constantemente movem influências a seu favor, acumulando injustiças cometidas contra aqueles que vêem os seus direitos travados pela corrupção instalada.
Sentimos uma violência silenciosa e o descontentamento no cerne desta preocupação. Uma realidade reflexa do deficit de controlo judicial, por parte do aparelho do Estado, apresenta dificuldades perante o volume de trabalho acumulado na Instituição, que se depara com a exigência obrigatória duma solução institucional rápida, aguardando por melhores dias, para por cobro à imagem de impunidade da Justiça na Guiné-Bissau.
A impunidade persiste e mantém uma convivência pacífica com os Tribunais, embora, ultimamente, já se ouça falar de auditorias e de processos instaurados por corrupção passiva ou activa, com os arguidos já em fila de espera ou em fase de preparação, no Ministério Público.
Novos ventos já sopram na nossa Democracia, a Justiça entrou em campo (embora ainda um pouco tímida), vamos aguardar, que seja “cega” e justa, tratando a todos por igual. Este novo bebé “Justiça” para todos, entrou em trabalho de parto, a equipa do Ministério da Justiça saberá o que fazer para proteger o seu desenvolvimento que se pretende saudável e, desta vez, queremos este novo Ser Institucional mais forte, pragmático e célere nas terapêuticas aplicadas, para acabar com a impunidade no País. Vamos aguardar sem “interferir”, para que cresça saudável o melhor possível, cega, para a igualdade de Direito entre todos os cidadãos Guineenses e não só.
Um dos perigos da impunidade é permitir que os criminosos continuem à solta, galopando, misturados na sociedade com cidadãos de boa conduta, estando eles mascarados de honestos, quando são bandidos experimentados, entre nós.
Se imaginarmos que, tendo em conta a escassez de recursos humanos qualificados, para travar esta crise no País, ser necessário “reutilizar” suspeitos de crimes cometidos, que gozam de impunidade existente, sem julgamento (o insólito é o veneno espalhado no ambiente social) fazendo parte de uma rede invisível de corruptos do sistema, é um perigo que persiste no meio administrativo do Estado, não se conhecendo culpados e/ou que já tenham sido julgados em tribunal e absolvidos. Apanhamos um enorme susto, só de pensar que corremos o perigo dos mesmos “surgirem” a mandar de novo e a encherem os bolsos, como sempre. Pois os mesmos corruptos do aparelho do Estado vão continuar lá, se nada for feito. Resta ao Povo estar vigilante, apelar para a transparência nas actividades das Instituições de Estado, para evitar actividades ilícitas de corrupção contra o Estado ou outros.
Para retratarmos aqui o fenómeno da corrupção, escolhemos o Eucalipto como símbolo/imagem, porque, segundo consta na sabedoria popular, é uma árvore gulosa no meio das outras, para crescer e sobreviver grande, as outras têm que mingar, passar fome, para o “eucalipto” encher a sua barriga grande de riquezas nacionais. Sabendo que as outras mingam quando plantadas junto deste gigante perfumado, que para subir na altura, tudo seca à sua volta, ficando cada vez o mais forte, e continuar guloso, como é conhecido, comendo quase tudo, deixando um pouco de “água” aos outros, só para disfarçar.
O” eucalipto” instala-se e impõe uma dieta obrigatória aos outros, lembrando bem os corruptos da nossa Terra, que roubam aquilo que o Estado tem de melhor e para todos.
Esta postura arrogante e fria dos corruptos, é o resultado da impunidade vivida, onde o poder dos corruptos está no controle subliminar de muita coisa que se passa no aparelho de Estado, são estes ” homens-eucaliptos”, esfaimados barriga de meia, que continuam a encher o bandulho sem sequer se preocuparem com a Justiça. Controlam tudo e todos ou o suficiente para continuarem a beneficiar da impunidade . Porém, há sinais positivos, que indicam que esta impunidade já começou a diminuir, tem os dias contados, acredito e espero não ser uma ilusão da minha parte.
É verdade que temos “líderes-eucaliptos”, ninguém duvida que os temos. Saquearam quanto puderam, repartindo a melhor parte entre os amigos e familiares, distribuindo migalhas ao real dono e merecedor deste “bolo”, o Povo, e, se nada for feito, eles andam aí, novamente excitados para montar o poder e “sacar”, é preciso pôr o aparelho de Estado em boas mãos, só.
O fenómeno da corrupção quando se instala num sistema económico e financeiro de um País, lembra parasitas que sugam o sangue, abrigados estrategicamente nas artérias e no ponto onde circula a maior quantidade de sangue (as riquezas do território nacional), no coração do Povo. Estes parasitas estão organizados, obedecem e fazem cumprir regras estabelecidas, junto dos membros da organização.
Não é corrupto quem quer, muito menos, pensarmos que se trata de uma organização desorganizada, não!
Temos “inteligentes”, mas desonestos, a trabalharem para os bolsos ou para a máfia organizada, dedicada a extorquir bens do Estado, infelizmente é o que se tem passado, há técnicos que despiram a farda de “revolucionários”, envergaram a de vigaristas, ladrões e criminosos, arruinando o próprio País sem dó, pois esta é que é a verdade nua e crua.
Temos todos de passar a dormir com um olho aberto, daqui para o futuro, se quisermos mudar isto. Eu ainda penso que os maus no poder, são uma minoria, há gente digna de merecer um cargo importante, sua gestão inerente, para levar o País para o sucesso.
Este fenómeno da corrupção assenta numa arquitectura disciplinada, com hierarquia rígida, procedimentos que funcionam na vertical, de cima para baixo, deixando a ideia clara de que quem manda, pode. Todos os seus membros têm a noção do peso da cabeça do “polvo” e da sua “mão” dura para quem cometer erros. É fácil de compreender tal rigidez e mão de ferro, uma vez que qualquer ausência de controlo rígido numa organização corrupta, acaba por ditar o princípio da sua morte interna, como organização mafiosa.
Quando esta rigidez se torna permeável, há infiltração de forças contrárias no aparelho criminal (ex: há polícia disfarçado), ou haverá discordâncias internas entre os membros da organização criminosa, acabando por ser auto denunciante para estes corruptos do sistema. Será o mesmo que abrir brechas na parede, para permitir espreitar para dentro sem ser visto. No entanto, é raro acontecer uma possibilidade destas, mas, não é menos verdade que a investigação Judicial, quase sempre, consegue prender os bandidos. Esperemos que isso suceda, sempre que preciso, na Guiné-Bissau.
Quem esteve em todas, naturalmente que conhece todos os compinchas das negociatas que afundaram o País. Os corruptos precisarão de manter o seu maior número de agentes colocados nos lugares chave, para agirem/informarem do estado das fontes e receitas à organização mafiosa a que pertencem. Aqui está um motivo fulcral do sistema corrupto, lutar para manter os seus membros nos lugares de destaque, sejam competentes ou não, visto que a cabeça do polvo precisará de um prolongamento do “olho-ladrão”, no rosto de alguém comprometido com o sistema, porque quem controla e decide é a cabeça do polvo.
Por esses motivos, alguns nomes de “confiança”, nestes quarenta anos, serviram como canais de corrupção e para manter a impunidade vivida no País. De outro modo não vejo como terá funcionado esta passividade em investigar a vida do Estado, nem sequer a desconfiança do esquema montado para o roubo e fraudes, cometidos contra o Estado da Guiné-Bissau, os quais permanecem na impunidade até hoje, sem investigação no terreno. Terá sido por medo, por cumplicidade, por receio da própria vida?!
Daí que me entristeça muito esta falta de sorte do nosso País, que confia o ouro a “profetas” que afinal são bandidos, pertencentes à máfia organizada para o saque. Faço aqui um paralelo com a situação de certos pais que, querendo o melhor para os seus filhos, os entregam ao Sr. Padre, que, afinal, é pedófilo.
É realmente muito triste confiar erradamente em alguém que nos atraiçoa de morte e ainda chora lágrimas de crocodilo.Pois há que estar atentos, porque no melhor pano cai a nódoa Camaradas, a questão é saber escolher e saber mudar os actores políticos, sempre que se confirmar a sua incompatibilidade no cargo público, suspeitas no papel desempenhado ou incompetência técnica, devem ser afastados até prova em contrário (e repor a verdade dos factos) e nunca esperar pelos piores erros, por repetição.
A corrupção também tem como objectivo criar alternativas no poder institucionalizado, procurando alterar as normas (leis), alterar as regras legais, colocar nas chefias agentes da organização mafiosa nos lugares de destaque, para fazer funcionar um corredor em benefício próprio, invertendo a relação económica e financeira, fazendo desviar toda a riqueza possível, ou grande parte dela, para lugares indevidos, que não os cofres do Estado.
A corrupção é um facto na Guiné-Bissau, isto constatam os mais atentos, basta reflectirmos sobre o paradeiro dos dinheiros da Guiné-Bissau!?, recebidos ao longo de quarenta anos, quando olhamos pelo muito pouco que se fez até hoje no País, perguntamos porquê, e alguém sabe responder? Ninguém sabe.
O fenómeno da corrupção procura manter seu modo de operar subliminar no essencial. Actua como uma doença contagiosa num grau fulminante, mas que neste caso, dificilmente mataria seu “paciente”, evitando dar nas vistas, preferindo antes neutralizar o indivíduo, e só em último caso, matar para esconder as provas.
A corrupção é uma organização secreta e fechada (não entra quem quer), no entanto, como qualquer organização, também esta não é perfeita, tendo sempre um ponto frágil e “mortal”, no seu próprio corpo (a questão é saber descobrir), onde podemos provocar o desmoronamento, anulando toda a sua actuação prejudicial para o Estado, até a aniquilação total no terreno e, festejar, viva a Guiné-Bissau!
Encontrar uma solução para a impunidade é urgente, substituir os “eucaliptos” também, preferimos como símbolo o POLÕM centenário, é uma das árvores mais altas, robustas e respeitadas na comunidade tradicional da Terra.
O mesmo que preferir um patriota a um alienado e corrupto diante dos destinos do País. O POLÔM é um “implante” na consciência de um transeunte, o seu efeito de tranquilidade, gera respeito, sendo uma árvore considerada sagrada, na razão da igualdade social, cultural, deste maravilhoso mosaico cultural, nunca contestada, é mantida como um símbolo positivo de poder, sem descriminação de qualquer espécie, é do Povo.
Parece ser o POLÕM a que reúne boa imagem, como símbolo de reconciliação com a Justiça Social e Solidariedade desejadas. Aquele que deve vigorar, em substituição do eucalipto da corrupção, o mesmo que preferir Guineenses honestos, justos, patriotas e competentes nos lugares “chave”, POLÕM!
Convém lembrar que ninguém nasce corrupto, pois “a situação faz o ladrão”, neste caso com poucos recursos no País, todos ralham e ninguém tem razão, e logo surgem alguns espertos, para desviarem para os “bolsos”, até serem presos, ou não.
Sabendo que somos um País frágil, se permitirmos parasitas a incubar, alastrando os seus tentáculos de pais para “filhos”, sem falar na família alargada, para dar continuidade ao crime organizado, o País jamais conseguirá sair da crise. Se qualquer árvore, depois de nascer, cresce no mesmo sítio, lá permanece eternamente até morrer, se a mão do homem não mudar o seu destino, então, há que mudar o que está mal, arrancar pela raiz o que está mal e, mudar para melhor.
Para acabar com “eucaliptos”, a esperança está nas novas escolhas para dirigentes partidários ou quadros profissionais, já a partir destas eleições que se avizinham, no País.
Podemos avançar com a mudança de mentalidade, cada dirigente do seu partido, de “A” a “Z”, terá de jurar fidelidade ao Estado da República da Guiné-Bissau, impor este novo modelo, como mentalidade padrão a todos os seus membros/militantes, porque este País não avançará apenas com alguns, mas todos juntos, venceremos.
Queremos uma justiça que ao mesmo tempo promova a tolerância, na possibilidade de reabilitação do criminoso, uma Justiça sensível aos sentimentos da vantagem do perdão, sobretudo nos crimes que marcaram décadas no tempo, sem julgamento, mas que hoje, a esta distância, talvez possa inspirar novos modelos de tolerância entre os cidadãos e fortalecer uma nova cultura de paz entre os cidadãos na Guiné-Bissau. A partir da partilha do perdão.
O mesmo que conseguirmos perdoar, o imperdoável. Acreditar numa – nova era entre irmãos – e avançarmos no tempo para um futuro melhor, com Paz!
Para isso deverá haver primeiro - UM PEDIDO DE PERDÃO PÚBLICO - do Estado da República da Guiné-Bissau, às Famílias das vítimas de crimes de sangue, assumindo culpas materiais e morais destes crimes, pela impunidade e ineficácia da justiça no País.
Devemos analisar e admitir o efeito positivo deste possível perdão junto dos familiares das vítimas, analisar caso a caso, podendo haver surpresas positivas no domínio público, que dependerá da espiritualidade e nova convivência de Paz, solidariedade, partilhadas entre os Guineenses com este resultado.
Não está fora de hipótese, o surgimento de uma resposta positiva neste sentido: o Perdão dos familiares das vítimas ao Estado da Guiné-Bissau. É tempo de quebrarmos este “orgulho” complexado e abrirmos a possibilidade de renovar o espírito com mentalidade nova, abandonar o mau pelo bom caminho, no sentido de ultrapassarmos todo este luto psicossocial e das Famílias das vítimas. Abrindo uma nova fase de convivência sã entre o Estado e as famílias, sem ressentimentos ou ódios infindáveis, que sabemos que remontam ao tempo da luta de libertação nacional, o crime, foi sempre um dos métodos usados entre camaradas, nas suas disputas inter-pessoais e ainda continua, Basta!
Convém não esquecer as mágoas e os recalcamentos mantidos como consequência destes crimes atrás referidos, atravessados no tempo, e sem sequer – tchúr tókadu – sem os rituais de luto cumpridos em memória de desaparecidos, isto pode ser encarado como sinal de revolta dos familiares das vítimas contra a impunidade ou contra o Estado.
Podemos fazer mais uns pelos outros do que só o julgamento nos Tribunais e condenar certos casos que remontam de há décadas, sem uma única palavra do Estado dirigida aos familiares dos desaparecidos por crimes de sangue.
Um erro crasso e colossal, ferindo a dignidade humana, este erro crucial interpreta não só o grau de arrogância cega, como também, a frieza de carácter com que se cometeram estes crimes. Também o Estado, sem dar satisfações aos familiares das vítimas, aumenta moralmente o grau desta impunidade vivenciada, acabando por manchar o nome Estado por “contágio”, que hoje é também criticado pelo mau funcionamento, nesta matéria.
O Estado, que em vez de proporcionar Justiça aos cidadãos, se revela inactiva, imprudente e frio nos actos, beneficiando por negligência os criminosos, em vez de julgar e condenar os culpados. Tudo isto aconteceu e continua a acontecer, tudo isto ainda é triste, tudo isto pode ainda parar, acabando com esta impunidade irresponsável das instituição visadas nesta resolução que ficou estagnada, i. é, se os Camaradas assim o entenderem e quiserem optar por uma solução pacifica, só.
Convém não esperarmos que uma pena aplicada, se houver julgamento (que é o mínimo), venha a resolver tudo (angústias, mágoas, revoltas, vinganças continuadas, etc.) de uma só vez entre as partes, não.
Há danos colaterais, físicos e psicológicos neste domínio complexo da materialidade dos factos como consequência dos crimes. O Estado, através dos Tribunais, tem o seu papel a exercer, esperamos que um acto de justiça definitiva, seja também “reparador” e não o contrário, abrindo caminho a novos sentimentos não de injustiça, mas o seu contrário.
Aqui o Estado é visto como pessoa de bem se agir bem, tendo um papel importante a desempenhar em relação às vítimas de atentados, conspirações, prisões e torturas sem provas fundamentadas e outras. Aqui, o primeiro passo deve ser devolver o “colo” e a atenção responsáveis e necessários, uma atenção material, tendo em vista o crime cometido e não abandonar, sem uma única palavra (e nem sequer dando os pêsames, tudo aconteceu na altura) as famílias das vitimas de crimes de sangue, sem uma palavra da “boca” do Estado, através da Justiça feita ou não.
O Estado não pode continuar a fugir às suas responsabilidades globais como pessoa de bem, não deve permitir-se “beliscar” na sua imagem por má conduta ou outro comportamento desviante, por parte de alguns líderes Guineenses no poder.
Um perfil de homem de Estado está para além da competência técnica do indivíduo, sem querer desfazer esta importante variável na promoção deste efeito reequilibrado na competência e acção profissional da Justiça. Queremos que se consiga atingir o coração do Povo, devolvendo quietude e segurança no seu seio, minimizando todo o sofrimento possível.
O homem de Estado terá como traço da personalidade relevante, o ser indivíduo de uma conduta honesta, patriótica e nacionalista, com capacidade de isenção, sensível e identificado com a defesa do Estado no seu melhor nível de competência profissional. Serão alguns pontos a ter em conta nesta “linhagem”, para assegurarmos o valor da coisa (território nacional/infra-estruturas) em boas mãos num futuro próximo.
Pensar Guiné-Bissau com humildade, significa usar a flexibilidade na análise, evitar apropriação da verdade dos factos, sujeitos a várias interpretações, significa relativizar os argumentos individuais ou de grupo, significa evitar radicalizar posições, mas sem perdermos o rumo dos objectivos traçados, como sendo metas com conteúdos de riqueza global para o Povo e não para um grupo de pessoas.
É preciso que o Guineense ganhe coragem e faça a pega frontal dos problemas que afectam a nossa sociedade e o País, assuma a liberdade de expressão como o arado na agricultura, para transformar/revirar a terra e preparar novas plantações. Evite o rótulo de “quem cala consente”, ou “nha bóka kasta lá” (não é nada comigo), porque se o Povo continuar silencioso/calado, a corrupção avançará ainda mais depressa, é preciso reivindicar o Direito e a segurança do cidadão, clamar por justiça social, e travar a impunidade, apoiando sempre a Instituição de Justiça no seu trabalho.
Há que apontar os erros, pondo o dedo na ignorância e na ”cegueira” que nos contorna e invade a capacidade de agir, pensar maduramente os problemas que afectam o País. Temos de isolar o que é mau para o Estado da República da Guiné-Bissau e lutar até à vitória do Povo.
Chegamos ao ponto fulcral em que os erros do passado já não se justificam (refiro-me aos erros de palmatória) hoje, ainda vamos pagar muitíssimo caro, os resultados destes quarenta anos que dançamos na corda bamba, até aos dias de hoje.
Todo um “romantismo” político e outras fantasias ideológicas que falharam num passado que remonta a quatro décadas, um modelo que já deu o que tinha a dar e vai passando.
Hoje, sem dúvida, temos como certo este atraso global de desenvolvimento no País. Uma consequência de más escolhas efectuadas, movidas na base de “ideologia” de chapa importada, que mais tarde, o calor tórrido da Guiné-Bissau, tratou de derreter, a imitação da “neve” trazida de outras paragens longínquas deste planeta, demonstrando assim, que o que precisamos mesmo (Guineenses) é de um realismo prático mais forte e profundo para este Povo, calcando firmemente os pés na terra e avançar até bom porto.
Não é obra do acaso o que aconteceu até aqui no nosso País, é por má gestão generalizada de recursos humanos, técnicos, materiais e financeiros.
A política ideológica de “chapa” importada também contribuiu, sem o mínimo de realismo comparativo do ponto de vista cultural e social, fomos forçados a adaptação de uma “ideologia” pouco identificada às realidades da sociedade Guineense (nos anos 70/a 80, principalmente). Uma “ideologia” politica/partidária como ferramenta, que veio servir o poder político instalado (partido único), utilizada como arma para descriminação xenófoba e, por vezes, criminal contra o cidadão, na nossa sociedade.
Estivemos enganados na aplicação que fizemos das políticas importadas, deu no que deu, provocando até o afastamento do berço de milhares de Guineenses que se viram forçados a emigrar, e, paradoxalmente, “fugindo” do amor da Terra-Mãe.
Partiram para sobreviver longe, com mais dignidade, num País de acolhimento, onde seriam compensados minimamente pelo valor do seu trabalho.
Prova disto é o facto da Diáspora ainda hoje, fazer muita falta como alicerce para o desenvolvimento sustentado. Basta observarmos o estado do País nestes quarenta anos passados. Os patamares da sua estagnação actual: no controle de fronteiras marítimas e terrestres, na agricultura, na indústria, no turismo, nas pescas, na saúde, na educação, na cultura, no desporto, etc. Isto sublinha o que acabei de afirmar como crítica positiva que não pretende disfarçar os erros do passado ou fazer o seu branqueamento.
O Povo não tem culpa, mas tem custado muito apontar os culpados deste estado a que o País chegou. A culpa há-de morrer solteira mais uma vez, e este é o coração do Povo que fala alto: “bó dysálys, nó’tem pena dêlys”.
É bom recordar que Países amigos doadores de fundos ao longo de quarenta anos, têm vindo a fechar a torneira ultimamente, restam agora só pingos de “chuva” a cair a conta gotas Pois estão desconfiados, porque ofereceram rios de “dinheiros”, que foram mal aproveitados, mal gastos e, perdoadas as dívidas, também não vêem nada feito, apenas algumas obras de envergadura (pontes e edifícios) construídas e entregues chave-na-mão, se podem ver no País. Porque, de outro modo o normal seria falharmos na concretização dos projectos, que começam e depois param ou não chegam sequer a iniciar-se, nada se sabendo acerca dos motivos da cessação.
Ninguém tem dúvidas que errámos estúpida e intencionalmente, parece, porque nesta repetição dos mesmos erros, pelos mesmos actores políticos de cargos de chefia, erros repetidos uma, duas, três vezes consecutivas, sem um alerta instintivo/pessoal, uma chamada de atenção ou um reconhecimento da acção “errada”, então pergunto, não dá para desconfiar que os mesmos erros trariam ganhos secundários para o “incompetente” e seus compinchas!?
Errar é humano, mas não saber que se está errando e repetir o erro muitas vezes, dá para desconfiar, i. é, quando não estamos perante um deficit cognitivo. Por isso, sublinho que erros houve, mas que foram INTENCIONAIS, penso que alguns para justificar o atraso do País.
Tudo leva a crer que estes erros e sua compulsiva negligência dos seus autores, beneficiaram materialmente alguns, sem dúvida.
O mesmo que roubar/roubando, para desgastar o “bolo” (a morder e soprar) até fazer cair um projecto visado, por esvaziamento de receitas financeiras dos fundos doados para a sua concretização.
Uma técnica que julgo ter sido programada/reprogramada muitas vezes, dentro e fora das Instituições do Estado, um esquema mafioso para roubar ao Estado, funcionando em função do “bolo” (ajudas) recebido do exterior (ajudas externas de Países amigos da Guiné-Bissau), e logo a seguir esvaziado progressivamente.
Muitas vezes ouvimos isto “sy bu otchá kuru, pyrbyta bu resolvy bu byda, anty dy bu say-lá!” (se fores nomeado para exercer um cargo de chefia – ministro – aproveita e resolve a tua vida), o mesmo que dizer rouba ao Estado, antes de abandonar este cargo.
Há que ter coragem e convicção na selecção por meritocracia, deve ser escolhido a dedo este perfil de liderança. Evitar frontalmente aqueles que fizeram encalhar este “barco”, aqueles que se abasteceram dos recursos do Povo, das ofertas recebidas para o orçamento do Estado e que não se sabendo onde e como, foram gastos. Aqueles que cometeram gestão danosa e fraudulenta, que nunca foram auditados nos ministérios ou serviços do Estado por onde passaram, aqueles que fizeram e ainda fazem parte dum sistema corrupto e mafioso a desmantelar, implantados dentro do Estado, são estes “actos” e pessoas que saquearam o País, por isso, devem ser afastados depois de provadas as culpas!
Não vamos deixar que continuem a destruir as nossas riquezas, por isso, vamos estar atentos a má gestão, à corrupção e a outros crimes que até aqui gozaram de impunidade. Não serem bloqueadas abruptamente, o País consequentemente se afunda de vez, na perspectiva económica, financeira e politica, há que dizer, BASTA!
Os actores políticos reconhecidos desta desgraça não devem voltar a entrar em cena para chefiar projectos de relevo para o País, já perderam a sua credibilidade, através de actos de incompetência comprovada na gestão de recursos e bens públicos. Que mais será preciso para reconhecer esta verdade? Nada!
Vamos colocar um travão nesta desgraça e exigir reconciliação urgente com o sucesso, uma realidade que está ao nosso alcance, vitórias que para hoje já chegam tarde, só.
Queremos um perfil de liderança com provas dadas de: patriotismo, honestidade, competência, experiência profissional, maturidade social, politica e cultural, idoneidade moral, uma conduta transparente e reconhecida na sociedade Guineense…, será por aqui Camaradas, que reencontraremos pistas a percorrer para o sucesso, acreditem, é o caminho do futuro.
A competência vem de dentro do indivíduo para o exterior (actividade profissional), manifesta-se, pode ser observada, é trabalho feito e reconhecido, que podemos tocar, ver a sua utilidade prática.
A competência pessoal não é um “estilo”, não é uma marca de roupa na moda, não é corte e costura usado justo ou largo, não se consegue plagiando, enganando, falseando verdades, não se consegue ascendendo na horizontal ou de cócoras, não se consegue por contágio emocional, também não é genético, não é propriedade de um apelido “famoso”, não!
A competência é fruto de um percurso teórico e prático muito sério, é um valor ganho que contrapõe à ignorância e o engano, é experiência e capacidade ganha no trabalho experimental do indivíduo, durante o seu percurso de formação teórica, na aprendizagem/execução e especialização, dentro de uma determinada área científica, tecnológica e profissional.
Posto isto, há que chamar a atenção para os cuidados a ter com os “estilos” que abundam na praça: os apelidos, atracção física, grupos a moverem influencia para beneficiar os amigos, que trarão os benefícios para a máfia instalada…
Finalmente, ter cuidado com ausências de Meritocracia verdadeira, de facto visível e comprovada, ter cuidado com as possibilidades de escolhermos mal, erradamente ou por descuido, só.
Seja como for, quem escolhe e tira, também pode desfazer a mesma escolha, se for necessário, pode substituir “a” por “z”, se se revelar a melhor decisão a tomar para se corrigir “alguém” à frente duma liderança (…)
Fico por aqui, sem achar sequer que seria uma análise exaustiva aqui deixada, dada a complexidade deste tema na sua amplitude e as perspectivas de análise exigida, tendo em conta vertentes em equação como: factores económicos, sociais e políticos que são pertinentes.
No entanto, deixo alguma reflexão e análise que acho também pertinente nesta matéria.
Basta de “eucaliptos” que não trazem riqueza nenhuma para o País, e, antes pelo contrário, subtraem-na e prejudicam o seu desenvolvimento.
*Filomeno Pina é articulista em Bissau Digital.
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